quinta-feira, 3 de março de 2016

Os argentinos perdidos

Quando estou na casa da minha mãe, em São Miguel do Oeste, gosto de correr em um trecho do acesso a Paraíso, fronteira com a Argentina.

Em duas ocasiões, carros com placa da Argentina pararam pedindo informações. Os dois haviam errado o caminho para Dionísio Cerqueira. Um deles estava irritado.

Alguns dias depois, no outro extremo de Santa Catarina, reparei na quantidade de argentinos no shopping Beiramar, aqui em Floripa. Famílias grandes, assustadoramente queimadas do sol, e em geral bastante felizes. Consumindo produtos e serviços do Brasil, o país que, de acordo com as pesquisas, é o que eles mais gostam.

Escrevo esse comentário justamente por isso: acho que tratamos mal os argentinos.

O problema mais evidente: não sabemos nos comunicar com eles. Observei no shopping, por exemplo, a dificuldade com que um senhor pedia um lanche,  num portunhol gesticulado. Até tentamos, do nosso jeito improvisado: reparei em um folheto de um restaurante da região oeste que tentou escrever “caminho das praias” em espanhol. Virou piada por dois erros grosseiros em uma única frase. E o tradutor do Google ali, gratuito, acessível. 

A falta de sinalização nas rodovias demonstra a mesma dificuldade de comunicação. Sem falar no lamentável estado de conservação das rodovias – também uma forma de comunicar a nossa indiferença.

Para piorar, achamos ainda que eles são folgados: sabemos que alguns realmente são, mas em geral é o choque de culturas. São vários mal-entendidos. Lembro de uma amiga argentina que comentava o que se fala sobre o Brasil por lá. E as consequências: lembro de outra amiga que pegou um taxi em Buenos Aires e foi tratada como uma prostituta. 

Existe também uma diferença brutal no comportamento de compra: em geral, o argentino, se não gostou, diz que não gostou e sai da loja. E os vendedores interpretam isso como falta de educação. Pois estão acostumados com o brasileiro, que inventa alguma desculpa (“Vou dar uma volta e pensar um pouquinho!”) para não parecer mal educado. 

Precisamos entender melhor os argentinos. Se não for por simpatia e educação, que seja para vender mais.