quinta-feira, 13 de abril de 2017

Perguntar pode ofender

Ou será que perguntar não ofende, como afirma a sabedoria popular?

Perguntar pode ser interpretado como uma mensagem, um recado. Logo, perguntar pode, sim, até ofender. Isso acontece porque, uma simples pergunta, pode ser entendida como uma recomendação, um ponto de vista, uma indireta. E isso tem consequências quando o que se quer é construir uma relação (de ajuda, comercial, amorosa, qualquer uma). Perguntar, em geral, já é uma forma de intervenção.

Como exemplo, o diagnóstico em uma consultoria. Nesse estágio inicial, o consultor precisa descobrir o que está acontecendo de errado. E ele começa a fazer perguntas. Se eu pergunto, por exemplo, qual é o diferencial da sua empresa, você responde “qualidade e bom atendimento”. Eu então respondo que isso é o que todo mundo fala. E vou para o próximo tópico. Tenho certeza que, essa pergunta e essa afirmação, vão interferir, de alguma forma, a maneira que você vê o próprio negócio.

O mesmo acontece quando o médico pergunta se você já fez determinado tipo de exame. E você, no papel de paciente, começa a imaginar muita coisa. Será que ele quer que eu faça ou eu já deveria ter feito? Será que ele desconfia que eu tenho algo grave? A pergunta, em geral, é interpretada, e o profissional que pergunta precisa saber disso. Será que ele sabe?

Por isso a recomendação é que se façam perguntas simples, diretas. Perguntas que o entrevistado entenda o propósito, sem dificuldades de interpretação.

E podemos ir além: postura, gestos, expressões faciais, tudo pode causar interpretações. Até o silêncio pode significar muita coisa, como nas rotineiras guerras conjugais. O grande problema dessa percepção que a comunicação não-verbal causa é que dificilmente você vai perceber o que está comunicando. Você vai precisar de pessoas para contarem para você aonde você está errando.

Conheço um profissional que passa a impressão de estar mal-humorado. Desconfio que ele não sabe disso. E agora, vou lá e conto? Ou deixo ele continuar passando essa primeira impressão negativa? Ou seja: se você não insistir para as pessoas avaliarem você, não irá descobrir os seus vícios de comunicação.

Todo profissional precisa prestar atenção nas impressões que transmite ao perguntar, ao observar, ao silenciar. Isso é tão crítico que pode estar destruindo dia após dia sua carreira e seus relacionamentos — e você nem percebe. Boa comunicação é resultado de prática e feedback constante.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

A esperança faz mal

Acredito que a esperança esteja fazendo mal para você. Vou tentar explicar.
A esperança está fazendo mal para você porque, quem tem esperança, apenas espera. Torce. Aguarda algo acontecer. E isso é ruim?

Em geral sim. Mas poderíamos afirmar que, em alguns casos, a esperança faz certo bem. Por exemplo, em situações em que não temos controle. Como a esperança de que algum ente querido sobreviva a uma grave moléstia. Ou a esperança de que a morte não é o fim. Mas quase sempre essa mesma nobre esperança transforma o esperançoso em resignado. Quero dizer: a esperança contagia, e começamos a esperar demais em todas as áreas da vida, do dia-a-dia. Ter esperança em questões delicadas parece contagiar as áreas em que é necessário agir. Contagiado, o esperançoso aguardo e aceita o que o suposto destino vai trazer — e, mesmo que não traga nada, ele aceita sentado.

E aí existe aquele ditado que diz que a esperança é a última que morre. Lembro, durante a infância, de uma pessoa religiosa próxima à minha família que dizia que a esperança não é a última que morre: ela nunca morre! E eu tentava entender a diferença. Até hoje não sei dizer. Só sei que ter essa esperança infinita era motivo de orgulho. Quase uma manifestação da Graça. Foi um longo caminho até mudar a percepção sobre esse sentimento. Sim, a esperança me parece ser só um sentimento confuso.

Outra exceção: a esperança também parece ser benéfica quando orienta o pensamento otimista. Mas nesse caso, a esperança é muito mais um recurso mental. Uma vantagem de quem está fazendo algo e esperando o melhor acontecer. Poderíamos chama-la, nesses casos, de fé — essa sim construtiva.

No dia-a-dia, a esperança não deveria existir. Ela poderia ser substituída por alguma forma de determinação otimista, como a fé. Algo assim: toda vez que a pessoa fosse dizer que espera que algo aconteça, ela estivesse dizendo que está indo lá conferir como vai ser.

Talvez seja exagerado um texto inteiro para criticar o conformismo que a esperança causa. Mas quem sabe esse texto represente, especialmente para mim (em geral escrevo o que eu preciso ler, leitor), um ato de fé, um princípio de ação — ou de reação — contra a esperança. Porque a esperança é a fé sem ação.