quinta-feira, 10 de março de 2016

O brasileiro propriamente dito

Há alguns dias peguei um ônibus para ir de Florianópolis até Santo Amaro da Imperatriz. Um trajeto de mais ou menos uma hora. Saí as 10 e cheguei as 11 e pouco da noite.

Fazia algum tempo que eu não andava nesse horário e nesse trajeto periférico.
O ônibus saiu quase vazio de Floripa, mas foi enchendo quando passou por dentro de São José. Na Palhoça, estava lotado: a massa de trabalhadores voltando pra casa. O brasileiro propriamente dito.

O detalhe que mais chamou a atenção não é nenhuma novidade: praticamente todos eles estavam conectados. Novos e velhos. A tecnologia não apenas distrai, mas também diminui a solidão.

Isso porque o seu cérebro não sabe exatamente o que é realidade e o que é estímulo da imaginação. Logo, ver uma foto ou um vídeo de um ente querido, para o cérebro, é como estar ao lado da pessoa. Mandar um recado e ler a resposta, para o cérebro, é quase como ouvir a voz de quem escreve, preocupado com você. Assim o tempo passa. Assim nos conectamos: não apenas no sinal precário das operadoras, mas com todas as pessoas que consideramos importantes.

É uma baita lição de marketing: o sucesso da tecnologia é resultado dessa capacidade de resolver nossos problemas. Se não vejo passar uma hora de ônibus, valorizo meu aparelho celular. Vou pagar por ele porque ele resolve vários problemas e facilita minha vida. Seu produto não vende? Pense em como resolver problemas e facilitar a vida das pessoas.

Mas muitos estão preocupados em criticar a tecnologia. Só que a crítica só é feita porque temos os equipamentos digitais nas mãos. Converse com esse trabalhador mais velho e pergunte como era enfrentar horas de ônibus sem o celular para entreter. A propósito, tenho pena das pessoas que enfrentam essas rotinas e desconhecem os benefícios da conectividade. A inclusão digital, hoje, não é um problema de renda. É um triste problema de faixa etária.

E claro que em geral as pessoas estão apenas conversando no Whatsapp, deslizando na linha do tempo do Facebook, ou, para aqueles que estão sem pacote de dados, jogando Candy Crush Saga. Mas isso não é culpa da tecnologia. É problema do usuário. A vida difícil, e o celular, são dele.