quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A semana e toda a vida

Costumo dirigir a palavra escrita aqui aos gerentes, proprietários, chefes. Afinal, as mudanças de maior impacto dependem de quem manda. Mas obviamente existem questões que escapam da responsabilidade deles. A seguir, um exemplo.

É normal encontrarmos no Facebook publicações com dizeres mais ou menos assim: “Até que enfim sexta-feira!”. Ou então: “Graças a Deus acabou a semana!”. Ou ainda: “Não aguento mais, preciso de férias!”

Muitas vezes sentimos a mesma coisa. Curtimos essas frases e imagens que comemoram o final de mais uma semana de trabalho. No entanto, é preciso ter certo cuidado ao tornar públicas essas manifestações. Elas revelam um pouco sobre o seu trabalho – e muito sobre você.

Se o seu chefe lê uma frase dessas que você postou, o que ele pensa? A primeira impressão é que você não gosta muito de trabalhar lá. Que o que você faz é um sacrifício e você não vê a hora de acabar. E que é bem provável que na primeira oportunidade você vai abandonar o barco. Ou estou exagerando?

Mas digamos que você esteja realmente cansado do seu trabalho, e não liga em demonstrar isso, mesmo que indiretamente, para quem quiser saber. Será que essas expressões não podem prejudicar o futuro? Imagine alguém que pensa em contratar você, mas no histórico do Facebook vê que você costuma comemorar a sexta-feira e reclamar da segunda. Será que simplesmente mudando de trabalho você vai começar a gostar do que faz?

Mais um sinal: o tempo costuma se arrastar quando fazemos o que não gostamos. E os bons momentos passam voando. Isso não acontece apenas nas férias – é assim em qualquer lugar. Logo, se você reclama que ainda é segunda ou terça, podemos inferir que você não está se divertindo das 8 às 18.

Além da percepção que causa nos outros, ficar reclamando que a semana de trabalho não passa é um problema pessoal, que precisa ser encarado. A principal reflexão é: será que você vai passar a vida esperando pelo final de semana? Será que o trabalho precisa ser esse fardo? Será que, ao invés de reclamar, não seria melhor construir outro caminho?

Cada final de semana que se comemora representa um pedacinho do ano que vai embora. Quem comemora toda semana que termina, já pode comemorar o ano que acaba – mas que, profissionalmente, foi jogado fora. Feliz Natal!



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Sobram planos, falta tempo

Quem acompanha o meu trabalho sabe que, com certa frequência, faço apresentações sobre Marketing e Inovação pela região. Ao final das apresentações, sempre deixo meu e-mail e falo que, quem quiser a apresentação em PDF, basta me escrever. Vejo as pessoas baixando a cabeça e anotando o endereço eletrônico (era assim que se falava em 1999).

No começo eu ficava imaginando a quantidade de e-mails na minha caixa de entrada no dia seguinte. Mas hoje eu sei que vem pouca coisa. Meia dúzia de e-mails no máximo.

Ao final das apresentações muita gente fala comigo. Comentam algo que acontece com sua empresa, algo que se identificaram, e eu peço para me escreverem: “tenho material, vamos trocar informações, vamos ver como o Sebrae pode ajudar”, entre outras exclamações. As pessoas aparentam estar empolgadas, cheias de ideias. Mas logo me esquecem, e não me escrevem jamais.

Sei que não é algo pessoal. O que acontece é a manifestação de uma característica que todos temos: somos todos extremamente criativos. Todos. Temos muitas ideias e planos. Mas sonhar e imaginar é a parte fácil. A parte difícil, que exige certo tempo e dedicação, essa deixamos para depois. E para mais depois. E aquela grande ideia acaba esquecida.

Para evitar isso, sugiro dar o primeiro passo. O primeiro e-mail. A primeira ação tangível. Porque é frustrante ter muitas ideias e nunca coloca-las em prática. E pior, sempre repetindo a mesma desculpa: a falta de tempo. E perceba, leitor: eu não pedi que comprassem selos, fossem ao correio e me enviassem uma correspondência, como se fazia em 1993. É um e-mail, digitado em um minuto. Até que ponto a tecnologia realmente nos ajuda?

Esse primeiro pequeno passo costuma gerar um efeito transformador. Comece a leitura. Mande uma mensagem para um contato importante. Faça a matrícula. Todo grande empreendimento, pessoal ou profissional, começa sempre com uma ação minúscula. No entanto, os mesmos planos grandiosos, quando não é dado esse primeiro passo, morrem no travesseiro, no chuveiro. Morrem na ausência de uma pequena ação inicial.

Falta tempo, mas o tempo vai passar de qualquer jeito. Seria melhor que ele passasse enquanto fazemos alguma coisa. Qualquer ação que represente um começo.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Volte a brincar, empresário

Quando penso nos dilemas do empreendedorismo, lembro de algo que acontecia na infância. Construíamos, por exemplo, uma estradinha na terra. Depois a ponte, o rio, a cidade toda. Até que, horas depois, estava tudo pronto: era chegado o momento de brincar. Mas daí a “graça” se perdia. O verdadeiro entretenimento era criar, construir.

Daí escuto que muitos empreendedores não são bons empresários. Segundo os críticos eles montam um negócio mas não sabem administrar. E daí a empresa não funciona.

Pode ser. Mas o que me parece é que continua acontecendo o mesmo que acontecia na infância. A parte divertida é construir. E na empresa estabelecida, quando não há para onde crescer, a equipe perde a motivação e não quer mais “brincar”.

Ultimamente, no entanto, minha preocupação é com aqueles empreendedores que se transformaram em bons empresários. Eles são, do ponto de vista tradicional, bem sucedidos. Abrem e fecham a empresa todos os dias. Controlam toda a gestão, fiscalizam tudo. Condenaram-se, no bom e no mau sentido, a atuar no operacional até o filho assumir. Ou o genro.

É claro que empresas novas precisam da atuação direta do dono. A prática evidencia isso. E quem já estudou o ciclo de vida das organizações vai lembrar: autores comparam um novo negócio a uma criança. Ela precisa da orientação constante dos pais. Mas depois ela cresce. Ou melhor: ela só cresce de verdade se ganhar independência.

Precisamos desses empresários construindo de novo. Por isso, pensei em um desafio. Empresário: defina um período de um ou dois anos, e nesse tempo transfira a gestão do negócio para alguém. Pode ser para um parente, mas o ideal seria que fosse para um funcionário exemplar. Ele merece essa chance. Dizem que os bons carregam consigo a ambição de crescer. E você, empresário calejado? Perdeu essa ambição pelo caminho?

E durante esse processo de delegar a gestão, sugiro que construa algo novo: monte outros negócios. Resolva outros problemas. Abra uma filial. Ou melhor: invista em alguém. Apoie uma ideia de negócio e, além de investidor, seja um mentor. Ajude nossos novos empreendedores. Você sabe como. Você já desbravou o caminho.