quinta-feira, 25 de maio de 2017

Caminho da felicidade

Há alguns dias, estava em uma reunião com um colega que trabalha com inovação. Ele é referência no assunto e eu precisava da ajuda dele. No final da conversa, ele fez uma comparação do conceito de inovação com aquela frase célebre: "felicidade não é um destino, é o caminho". Logo, para ele, inovação não é um destino, ou um objetivo – é o caminho, o jeito de trabalhar.

Faz todo o sentido! Não se conquista a inovação: a inovação propriamente dita é o processo, o jeito de ser e de pensar, a mentalidade e a atitude. Esse é o melhor conceito. E as melhores práticas?

Vamos lá: aproveitando o tema, insiro algumas reflexões que abordo com certa frequência quando se trata de inovação e mudança.

Talvez a mais importante: inovação também é jogar fora! Cortar, parar, descontinuar. E essa avaliação de prioridades é um excelente primeiro passo. Você quer mudar e fazer coisas novas e melhores, mas não sabe por onde começar? Quem sabe a melhor forma seja refletir: aonde você passa o seu tempo? Com quem? Aonde está o seu foco, a sua atenção e o seu esforço?

Outra: inovação depende de tentativa e erro. No processo de inovação, o erro é necessário. Mas temos medo de errar. O chefe xinga. Os amigos dão risada. Por isso, evitamos arriscar, e assim matamos qualquer possibilidade de inovação em função da vergonha e do medo. Nossa noção de sucesso acaba sendo a seguinte: fazer as coisas do mesmo jeito, de modo que a rotina se mantenha. Quer dizer: para inovar, precisamos investir caro em tecnologia ou precisamos antes mudar a nossa atitude em relação a maneira que encaramos as adversidades?

Estabilidade é algo subjetivo e inventado. E do jeito que anda a tecnologia, quem realmente quer certa estabilidade precisa acompanhar o movimento, arriscar e mudar. Hoje em dia, instável é quem está parado. Faz sentido?

E para concluir, retomo a origem desse texto, que também é o tema da palestra que mais faço por aí: a felicidade precisa vir antes do sucesso. A felicidade é o caminho, e não o destino. Ou você acredita que a felicidade vai aparecer e permanecer no dia que você realizar um sonho? Se o processo não for divertido, construtivo e feliz, o destino também não vai ser. Pergunte aos mais velhos.


Os técnicos que me perdoem, mas vou arriscar e dizer que um processo de inovação constante é um bom e útil conceito de felicidade.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Os sentimentos opostos

Você já deve ter ouvido por aí aquele ditado popular que diz que o oposto do amor não é o ódio, e sim a indiferença. Eu li isso pela primeira vez em algum caderno de pensamentos, surrupiado durante o recreio da escola. Li pela segunda vez na época do saudoso Orkut. Nós que matamos o Orkut de tanto postar banalidades. Mudamos pouco, e o Facebook e o Whatsapp resistem bravamente às nossas investidas.

Mas eu falava da frase: ela faz todo o sentido, concorda? Lembrei dela há alguns dias, ao ouvir outra frase dessas, bem parecida: a tristeza não é o oposto da felicidade, e sim o tédio.

Quer dizer que num extremo fica o tédio, e no outro, a empolgação? Outra frase que parece fazer sentido, já que, obviamente, não estamos felizes quando estamos entediados. Nossos momentos de alegria costumam ser os momentos em que nos aproximamos da empolgação.

Gosto de explorar esses sentimentos opostos por um motivo especial: eles não coexistem. Ou seja: se você está empolgado, não estará triste. Sabendo disso, podemos começar a aprender a derrotar pensamentos e sentimentos negativos, destrutivos. Explicarei.

Antes, um outro exemplo: quem está estressado não consegue ser gente boa, educado. Será que é isso que acontece com boa parte do serviço público? O trabalho é estressante não por ser pesado, mas por não haver muitas perspectivas. A tão sonhada estabilidade acaba se tornando entediante. Opa, alguém falou em tédio? O oposto da felicidade? É isso: entender sentimentos opostos é uma forma de entender a verdadeira causa de um problema, e não apenas os sintomas.

Estando menos estressado, o servidor público, no caso, vai tratar melhor as pessoas. Isso porque os dois estados emocionais (estressado e gente boa) não coexistem, não são compatíveis. O estresse combina com o mau humor, com a apatia, com a insensibilidade.


E aí vem a estratégia invertida, motivo desse texto: ser gente boa, à força, apesar dos problemas, reduz o estresse? Praticar gratidão e compaixão até virar hábito cura descontentamento e desgosto? Ser indiferente, apesar da saudade continuar grande, espanta o amor e o ódio? Quem sabe possamos resolver mais problemas praticando o oposto daquilo que eles representam.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Pensamento sistêmico

O termo pode parecer complicado, mas a ideia é simples. E extremamente importante, na vida, na escola, no trabalho.

Ter visão sistêmica significa entender todo o sistema em que você se encontra, e especialmente compreender como cada fato está relacionado. E dessa forma, entender o que precisa ser feito para alterar o sistema. Vou explicar.

Imagine duas crianças brincando na praça. Melhor: essas crianças são os seus filhos. Do nada, um começa a chorar: o outro jogou areia nele e entrou nos olhos. A criança atingida grita, aos prantos, que o irmão é mau e que ele não gosta dela.

Mas você sabe que seu filho não é uma pessoa má. Logo, algo deu errado nesse sistema. O que você precisa é identificar o que aconteceu. Provavelmente, alguma coisa foi dita. Algo pode ter acontecido ontem, na semana passada, e a criança que jogou areia apenas demorou para reagir.

Talvez essa seja a lição mais importante sobre sistemas: o efeito, em geral, não acontece logo depois da causa. Ele pode demorar a aparecer.

É difícil, especialmente para crianças, entender essa complexa relação entre causas e consequências. Fico chocado com pais que, nesses casos, por exemplo, castigam os dois filhos. Com a desculpa de que, se um não quer, dois não brigam. Será que os pais fazem isso porque é mais fácil do que tentar entender e ensinar, ou porque foi assim que foram educados no século passado? Será que é por isso que tantos adultos tem dificuldade em interpretar fatos e consequências?

E nas empresas, compreende-se esse sistema complexo chamado “consumidor”? Ou talvez ainda mais crítico: o sistema interno, de gestão, está claro para todos? Consegue-se identificar porque a equipe está agindo de tal forma? Quais as ações alteram o funcionamento do sistema? Nessa forma de pensar, um gerente deveria ser um especialista no sistema que gerencia. E aprender, todos os dias, formas de influenciar e resolver problemas, identificando as ações que geram as consequências desejadas.

E só mais uma pergunta: por que conselhos não funcionam? Porque não conhecemos o sistema de quem queremos aconselhar. Se você quer passar um recado eficiente, quem sabe seja melhor sugerir uma forma de a pessoa entender o sistema em que ela está tendo dificuldades. Porque entender o sistema é o primeiro passo no processo de mudança.

A sua missão

Prezado leitor, imagine a seguinte situação.

A sua filha se apaixonou perdidamente aos 14 anos. O rapaz não tinha uma fama muito boa. Mas ela jurava que ele estava mudando. Você tentou intervir, aconselhar, mas sem sucesso: sua filha chorava e não tinha jeito de orientá-la. Contrariado, você acabou cedendo, e deixou ela errar e aprender sozinha.

E obviamente o esperado aconteceu: o rapaz aprontou bastante (dizem que a melhor maneira de prever comportamento futuro é olhando o passado. As pessoas mudam, sim, mas em geral mantém a essência). Sua filha sofreu. Mas com o tempo superou.
Dez anos depois, a filha está casada com outro rapaz, o oposto daquele traumático primeiro amor (e qual não é?). Mas ao relembrar o passado, ela culpa os pais pelo acontecido. Ela afirma que eles deveriam ter impedido. E a mãe responde: “Mas como, era impossível falar qualquer coisa, você não ouvia!” E a filha sentencia: “Eu tinha 14 anos, não sabia o que estava fazendo. É papel dos pais educar e orientar o filho.”
E agora, quem está certo, quem está errado?

Há alguns dias presenciei um exemplo, não tão dramático, mas semelhante. Era uma capacitação, com um ótimo instrutor, reconhecido por todos. Uma boa equipe de alunos, mas muita conversa, desatenção. E o instrutor, talvez intimidado, deixou por isso mesmo. Ele quis ser gente boa, não criar conflitos.

O problema é que os alunos não vão avaliar essa postura de amigo, tolerante. Ele foi julgado por não ter pulso firme. Por não ter feito o papel que se esperava dele. É uma opção de qualquer profissional: ou ele tenta agradar, ou ele lidera e dá o exemplo.

Falamos tanto sobre liderança, mas em geral o assunto fica na crítica ao chefe autoritário, que não sabe guiar a equipe. E então o chefe acredita que se souber ouvir e for mais democrático os problemas serão resolvidos. Essa postura aberta pode representar um primeiro passo. Mas o verdadeiro desafio do líder (pai, mãe, chefe, ícone) é entender o que importa no longo prazo, e fazer os sacrifícios necessários no presente. E isso não é tarefa fácil — no menor descuido, cedemos ao agrado, esquecendo valores, motivos e objetivos.

Qual é o seu papel, o seu dever, a sua missão? Faça. Não importa se os envolvidos reclamarem durante a sua ação. Esperamos, no fundo, que você faça o que é certo. Não ouça os lamentos que levam à conivência, ao menos trabalhoso. Se não seguir sua missão, as mesmas pessoas que você quer agradar avaliarão e responsabilizarão você por isso.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Diálogos internos

Há alguns dias, num treinamento de gerentes, falávamos sobre as perigosas histórias que contamos para nós mesmos. Coisas como “eu nunca vou ser tão competente”, ou “eu não sou tão inteligente”, ou então “as pessoas me julgam”.

Nesse dia, uma gerente contou que estava voltando a estudar depois de muitos anos, e que isso estava deixando ela preocupada. Perguntei por que, e ela disse que se sentia perdida, deslocada. Perguntei por que, e ela afirmou que era muito conteúdo para estudar.

Suspeitei que este não era exatamente o problema. Debatendo, percebemos que ela estava se achando velha em comparação com os colegas de faculdade de 18 anos, maioria na turma.

Com a ajuda da equipe de gerentes, mudamos essa perspectiva: ela tem experiência enorme na área. Se ela quiser, vai se tornar referência para os mais novos: esses sim, perdidos, vindos de um ensino médio caótico, e sem uma ideia clara de como vai ser o futuro.

Outro apoio importante nessa orientação: os gerentes que já haviam feito faculdade, deixaram claro para ela que a faculdade não ensinou eles a trabalhar. Eles tiveram que aprender tudo na prática, assim como ela aprendeu. Se um alienígena olhasse para a situação, creio que ele perguntaria algo assim: “Por que essa moça experiente está fazendo esse curso de noções básicas? Por que ela se sente na obrigação de ter isso que vocês chamam de diploma? E esses jovens inexperientes, depois de 5 anos de estudo, vão perceber que aprenderam pouco sobre a prática, a realidade?”

Mas o ponto hoje não é questionar nosso jeito arcaico de ensinar. Quero chamar a atenção para os absurdos que repetimos para nós mesmos, todos os dias, durante anos, durante a vida toda. No exemplo citado, a aluna mais experiente da sala, que poderia estar ensinando aquela turma, fala para si mesma que é velha e que está muito tempo sem estudar formalmente. Ou ela muda esse discurso, ou vai passar o resto da faculdade quieta, num canto, achando que está sendo julgada.

O que falamos para nós mesmos é o que imaginamos que os outros pensam sobre nós. E isso é crítico, é avassalador. Mas também é uma ilusão: raramente alguém vai dedicar tempo para pensar, julgar, avaliar você. Todos temos nossos problemas, nossas batalhas internas, todos os dias. Para a maioria de nós, sobra pouco tempo para se preocupar com os outros.