terça-feira, 28 de maio de 2013

O amadorismo virtual das empresas


Vejo no Facebook um escritório fazendo aniversário. E agora: faz um ano que ele abriu ou é aniversário de um dos sócios?

Ninguém deve ter lido os termos de uso do Facebook, mas ele restringe o perfil de usuário apenas para pessoas físicas. Se você, empresário, tiver um concorrente malvado ou um ex-cliente rancoroso, ele poderá contatar o Facebook e, digamos, “denunciar” o seu perfil. E o Facebook poderá excluir o perfil com o nome da sua empresa, já que contraria os termos de uso que ninguém leu.

O que fazer então? O que as empresas grandes fizeram e, justiça seja feita, muitas empresas pequenas também: criar uma página (fan page), recurso disponibilizado pela rede social justamente para as empresas que querem divulgar sua marca e compartilhar conteúdo com seus clientes.

As vantagens são inúmeras: você terá, por exemplo, relatórios sobre dados demográficos e geográficos dos “fãs” (os usuários que clicam em “curtir” na sua página). Você poderá nomear alguém como administrador: pode ser um funcionário ou aquele sobrinho adolescente que não sai da internet. Essa pessoa poderá ajudar você a administrar o conteúdo. O Facebook também dirá quantos visualizam sua página, cada publicação e cada foto. Ou seja: é possível ter um feedback completo do desempenho social da sua marca.

Digamos que você tenha cometido o erro de criar um perfil de usuário para sua empresa. Não se desespere: você não precisa excluir o perfil, basta migrar para uma página. Quem era seu “amigo” se torna seu “fã”. Você ganha em profissionalismo e “legaliza” sua marca no Facebook.

Muito importante: divulgue apenas conteúdo relevante. Facilite a vida dos seus clientes, quem sabe tornando a página do Facebook um ponto de informação, de dúvidas ou até, por que não?, um local para agendar horários ou fazer pedidos. Divulgando informação relevante você se tornará referência (o tal Marketing de Conteúdo) e reduzindo esforços você fideliza clientes.

A profissionalização social de uma empresa começa quando ela para de “cutucar” os amigos no Facebook. 


terça-feira, 21 de maio de 2013

Gordo pode. Gorda não

Mike Jeffries, presidente da marca de roupas Abercrombie & Fitch (A&F), não tem medo de parecer politicamente incorreto. Ele já afirmou e continua afirmando para quem quiser ouvir: a Abercrombie não quer mulheres gordas usando sua marca.

Por esse motivo, a empresa não fabrica o tamanho GG (XL) para roupas femininas. As calças também vão apenas até uma numeração baixa, que só servem em mulheres magras. Concorrentes como GAP, American Eagle e H&M (Hennes &Mauritz) nem pensam nisso, e todo ano lançam coleções plus size.

Mike Jeffries justifica que a principal estratégia de divulgação da Abercrombie é selecionar bem as pessoas que ostentam a marca. Eles querem vestir jovens descolados, populares na cidade – e magros. “Nós somos excludentes? Absolutamente! Essas companhias que estão com problemas tentam atingir todo mundo: jovens, velhos, gordos e magros. Mas assim você se torna um lugar-comum.”

Para concluir, uma curiosidade que se tornou a razão deste texto: para homens a Abercrombie não faz restrição de tamanho. Especialistas acreditam que a marca faz isso para servir em atletas, como lutadores e jogadores de futebol americano. Será que é isso mesmo? A Abercrombie faz roupas masculinas grandes só para servir nos bombados?  

A explicação é cliché, mas é um fato da nossa cultura: o padrão de beleza é muito mais “exigido” da mulher. Ser bem sucedida é um detalhe. E essa “cobrança” não é apenas a “sociedade” que impõe: a mulher se martiriza por estar acima do peso preestabelecido. Já o gordo nem tanto: se tiver dinheiro, o sobrepeso não vai influenciar no seu convívio. Culturalmente, do homem se exige, em primeiro lugar, que seja alguém, que não seja um fracassado. Já da mulher se exige, em primeiro lugar, que tenha um corpo bonito.

Assim, arrisco um palpite: ser gordo não é problema para a Abercrombie. O problema é ser gorda. Cruel e simples assim.

terça-feira, 14 de maio de 2013

As mulheres odiadas


A vice-presidente de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, conversava com sua filha de 5 anos:

“Quanto melhor a mamãe é no trabalho, menos pessoas gostam dela! Já quanto melhor é o papai no trabalho, mais pessoas gostam dele!  O que você acha disso?” E a mocinha respondeu: “Eu prefiro ter menos sucesso no trabalho para mais pessoas gostarem de mim!”

Sheryl apareceu recentemente na capa da revista Time sob o seguinte título: “Não a odeie por ela ser bem sucedida”. Ela escreveu um livro chamado “Faça Acontecer”, no qual orienta as mulheres sobre as dificuldades corriqueiras do mundo coorporativo. A autora, no entanto, tem sido bastante criticada por abordar a questão sob uma ótica muito feminista.

No blog da Harvard Business Review, a autora Marianne Cooper cita a executiva do Facebook e afirma: para as mulheres, o sucesso realmente não combina com simpatia e admiração. As mulheres bem sucedidas, segundo ela, são muitas vezes até mesmo odiadas.

Segundo a autora, as pessoas admiram homens bens sucedidos. Para as mulheres, no entanto, essa relação entre sucesso e carinho não existe. Pelo contrário: seria algo inversamente proporcional.

O motivo seria que mulheres bem sucedidas se comportam de maneira socialmente inaceitável. Ser competitiva no trabalho, por exemplo, seria algo que não combina com uma mulher. Segundo a autora, espera-se que as mulheres sejam sempre como mães queridas e amigáveis.

Não é novidade que as mulheres enfrentam mais barreiras no trabalho. O machismo ainda existe. E as mulheres enfrentam o dilema de conciliar vida pessoal e profissional de um modo muito mais intenso que os homens.

Quanto ao fato de as mulheres bem sucedidas não despertarem simpatia ou serem odiadas,  arrisco um palpite. Decerto o sucesso de uma mulher não agrada todos os homens da empresa. Mas será que as mais incomodadas com esse sucesso não seriam as mulheres frustradas?

terça-feira, 7 de maio de 2013

O oportunismo é míope


Um fato ocorrido no último jogo entre Bahia e Vitória serve de ilustração para um ponto crucial dos negócios: a avaliação de oportunidades e de ameaças.

Primeiro a oportunidade: o cantor Carlinhos Brown e alguns sócios desenvolveram uma espécie de chocalho chamado caxirola. O “instrumento musical” já existia, mas feito de modo artesanal. Brown & Cia industrializaram.

A ideia era vendê-lo durante a copa do mundo de 2014. O raciocínio: já que na copa da África de 2010 existiam as vuvuzelas, por que não criar algo tupiniquim para atazanar os jogadores e a torcida? Cada unidade do chocalho custaria aproximadamente 30 reais. Projetando um volume de vendas nada modesto de 50 milhões de unidades, Carlinhos Brown vislumbrou um negócio de 1,5 bilhão de reais.

Detalhe: a presidente Dilma e alguns de seus ministros ficaram encantados com a ideia: uma manifestação cultural para o mundo admirar.

Qual seria a ameaça? Que atirassem o objeto na própria torcida ou nos jogadores, mesmo sendo leve e incapaz de ferir alguém gravemente. Carlinhos Brown utilizou o jogo entre Bahia e Vitória para lançar o produto. Revoltada com a goleada sofrida, a torcida do Bahia arremessou suas caxirolas no gramado.

Resultado: a FIFA, preocupada, já estuda proibir o artefato durante a Copa. E a caxirola virou piada em todas as mídias.

Outro detalhe: já era uma tradição dos torcedores africanos soprar a vuvuzela. Eles imploraram para que a FIFA liberasse o buzinaço durante os jogos da Copa de 2010. Já a tal caxirola não é um hábito ou uma tradição do torcedor de parte alguma do Brasil.

Existia uma manifestação cultural nos nossos estádios, mas foi proibida: a cerveja. Na abstinência, torcedor, troque o copo pelo chocalho.

Oportunidades geram entusiasmo, e o entusiasmado costuma ignorar as ameaças. É uma miopia que deve ser corrigida por quem pretende investir: é preciso listar tudo que pode dar errado e antecipar soluções e alternativas. Seja você um empreendedor ou só mais um oportunista.

Abaixo, Carlinhos Brown ensina como torcer com a caxirola: