quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A linha de frente e um combate contraproducente


Na prestação de serviços, é chamada de “linha de frente” a equipe de funcionários de atendimento ao cliente. O termo, imortalizado no clássico “A Hora da Verdade”, de Jan Carlzon, tem origem militar: a linha de frente era composta por soldados entrincheirados, ou tropas de reconhecimento de terreno que estavam adiantadas: logo, mais vulneráveis e propensas aos ataques inimigos. (Escrevo com verbos no passado porque valer-se das linhas de frente é uma estratégia militar defasada).

Curiosamente, nas organizações, a linha de frente, trabalhando sem estratégia, também combate: funcionários consideram seu cliente um inimigo. No discurso, o atendente declama: “Quem paga o nosso salário não é o patrão, é o cliente!” Mas na prática, como já detectava Theodore Levitt há meio século, “O freguês é alguém que está ‘lá adiante’ e que, mediante um golpe bem dado, pode abrir mão de seu dinheirinho”.

E como na guerra, os nossos soldados da linha de frente (frentista, balconista, garçom, caixa) travam batalhas diárias marcadas pela falta de aptidão e pelo despreparo. Nesse momento conflituoso, em frente ao cliente, o atendimento adquire contornos emocionais, pessoais. O que deveria ser um contato mediado pelo profissionalismo e pelo decoro acaba em improviso, desconfiança e medo.

Sabemos que as empresas herdaram muito do modelo militar, desde a hierarquia até a estratégia competitiva. Poderiam emular outro procedimento do exército: o rigoroso e detalhado processo de alistamento e recrutamento. Desse modo nossa linha de frente poderia servir o (ao) cliente da mesma maneira aplicada com que os milicos servem à pátria.