quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Os pesquisadores do futuro

O Ministério da Educação (MEC) divulgou essa semana o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O resultado foi pior do que nas últimas edições: o ensino médio não progrediu, e 17 estados brasileiros recuaram. A média nacional é de 3,7 na escala de zero a 10. A média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 5,2.

Alguns dirão que esse fiasco é das escolas públicas e dos rincões abandonados pelos governantes. Também. Mas aqueles que deveriam ser nossos estudantes de ponta também andaram aprontando.

Os alunos brasileiros da Universidade de Southampton, do Reino Unido, receberam um e-mail que questionava a sua falta de dedicação como estudantes bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras. Quem mandou o e-mail foi a instituição Science Without Borders UK (SWB UK), que cuida do programa na Inglaterra.

O e-mail enviado aos bolsistas afirma que o SWB UK foi "contatado pela Universidade de Southampton devido ao número considerável de reclamações das faculdades em relação ao comparecimento e à aplicação nos estudos". A instituição afirma que entende que a reclamação não se aplica a todos, mas diz que “gostaria de pedir que se esforcem mais e que cumpram todos os compromissos firmados.” Existe a possibilidade de os alunos terem que devolver o dinheiro que receberam do programa.

Uma reportagem do Brasil Post ouviu alunos brasileiros que receberam esse e-mail. Eis o depoimento de Denise Leal, estudante de engenharia civil: "Eu achei ofensivo ter recebido [a mensagem] porque realmente tive comprometimento com o programa, mas entendi a intenção deles. A maioria dos estudantes que estão participado do programa não se engaja muito porque o governo [brasileiro] não exige nada em troca. Não cobra nada! A gente foi meio que solto aqui. Quer estudar, estuda. Não quer estudar, viaja, porque o governo paga e não cobra resultado. O dinheiro dá e sobra, então eles preferem viajar e faltar às aulas porque não tem presença, chamada."

O governo federal já concedeu aproximadamente 100 mil bolsas para que universitários estudem no exterior. Isso é bom e necessário. O absurdo é não exigir nenhuma contrapartida dos beneficiados.

Nossa educação é muito ruim. Mas preocupante mesmo é a inconsequência e o descaso dos alunos. Aqui e lá fora.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Economia de silicone

Para entender o impacto das situações econômicas podemos olhar para o passado. Um exemplo: a época da enorme inflação no Brasil. Se você ainda mora em uma casa que possui um cômodo chamado “despensa”, é provável que sua casa foi projetada nessa época. Na cabeça do arquiteto, era preciso que você possuísse um local para armazenar comida, e assim fugir do aumento constante dos preços.

Outro exemplo: provavelmente sua família já teve, e quem sabe ainda possui um velho freezer horizontal, que também servia, por exemplo, para estocar carne. Não que a nova geração não perceba os efeitos da inflação. Mas o cenário econômico não parece mais uma ameaça tão próxima quanto no passado recente. Hoje podemos pensar em investimentos produtivos com mais certezas – como, por exemplo, montar um negócio.
Desse modo, entender macroeconomia e suas influências se torna um exercício mais histórico. Ou de geografia: hoje, um ótimo exemplo é o que acontece na vizinha Venezuela.

O presidente doidivanas Nicolas Maduro, sucessor do tirano Hugo Chávez, vem adotando medidas que estão provocando escassez crônica de itens básicos de consumo. Falta papel, por exemplo: mais de dez jornais já encerraram suas edições impressas ou diminuíram a quantidade de páginas. Além de ser resultado da restrição da importação de papel, a medida é também um golpe direto para enfraquecer as críticas da imprensa. E um golpe indireto na população que continua indo ao banheiro. Se é que o leitor me entende.

Outra grande ideia recente de Nicolas Maduro: limitar a compra de itens básicos na rede privada de supermercados. Isso já acontece nos mercados públicos (a rede Casino foi desapropriada por Hugo Chávez em 2010). Ou seja: uma desastrosa política financeira penaliza sempre o consumidor.

Mas a melhor foi anunciada essa semana: falta silicone de qualidade no país, o que atinge seu principal – e talvez único – segmento de reconhecida qualidade mundial: as mulheres. A Venezuela ganhou 7 vezes o concurso Miss Universo (atrás apenas dos EUA, que ganharam 8). No mercado só há silicone chinês, de qualidade inferior, já que é proibido importar dos EUA ou da Europa.

Dito isso, uma boa pergunta para entender o conceito: como o cenário econômico afetaria sua vida se você fosse jornalista, varejista, cirurgião plástico ou um simples cidadão venezuelano?









quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Como você mede sua vida?

Clayton Christensen é autor do clássico “O Dilema da Inovação”. Há alguns anos ele escreveu um artigo na Harvard Business Review chamado “Como você vai medir sua vida?”. Ele fez uma palestra no TED Talks com o mesmo nome do artigo. Optei pelo vídeo de 20 minutos.

Imaginei um conteúdo mais técnico, mas fiquei surpreso com abordagem de Christensen. O autor começa mostrando o quanto nos enganamos por achar que tudo que fazemos tem uma relação de causa e efeito. Em geral o que existe é, no máximo, uma correlação. Causa e efeito é algo mais complicado de encontrar e entender.

O autor conta que a cada cinco anos sua turma do MBA se encontrava para comemorar. Todos estavam felizes no primeiro encontro: carreiras em ascensão e recém casados. No entanto, nos encontros seguintes, as pessoas estavam desanimadas. E divorciadas. Não era bem aquilo que ela haviam vislumbrado.

Medimos nossa vida de acordo com os nossos resultados imediatos. E no dia a dia, damos prioridade para tarefas que nos dão um retorno rápido: uma venda, um contrato, uma promoção na carreira. Queremos conquistas imediatas e tangíveis.

E resultados de longo prazo são ignorados. Como por exemplo, segundo o autor, se dedicar à família: seus filhos vão se comportar mal todos os dias. E vai demorar uns vinte anos para você parar e dizer: “Que ótimas crianças nós criamos!”

Para Christensen, empresas caem pelos mesmos motivos: elas querem resultados rápidos e tangíveis para “planilhar” o sucesso. E as pessoas que formam essas organizações (nós!) se comportam de forma idêntica ao projetar a vida. Temos uma mente limitada que nos obriga a medir nosso desempenho de acordo com generalizações dos resultados atingidos.

Mas o autor conclui assim: Deus tem uma mente infinita, e Ele pode avaliar exatamente cada indivíduo. E então Deus, quando confrontá-lo, vai perguntar algo assim: Como você reagiu nessa situação em que Eu te coloquei? Você ajudou de que forma as pessoas envolvidas?

Você não precisa acreditar que será interrogado por Ele. Mas creio que uma vida inteira de ética e empatia é motivo de orgulho para um veterano.

Foi bom ouvir um autor que eu admiro afirmar que a generosidade acumulada é uma boa maneira de medir a vida. Será que 20 minutos por dia são suficientes?

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A situação e a inteligência

Eu buscava no Google o termo “situações ambíguas” e caí, por acaso, numa entrevista sensacional da Revista Época Negócios do ano passado. O entrevistado é Sérgio Averbach, presidente da Korn/Ferry Internacional para a América Latina.

Na entrevista, ele critica o conceito de “inteligência emocional” como único fator de desenvolvimento profissional. A ideia central da inteligência emocional é de que não basta você ser uma pessoa inteligente: você precisa saber controlar os seus impulsos. O conceito ficou famoso em 1995, ano de lançamento do livro “Inteligência Emocional”, de Daniel Goleman. O autor afirmava que o sucesso, em qualquer área de atuação, dependia de 20% de QI e 80% de QE (quociente de inteligência emocional). Não demorou para o termo entrar no mundo corporativo.

Para o entrevistado, no entanto, a inteligência emocional não é a solução de todos os problemas. Ela é uma de um repertório de competências emocionais e competências de influência. As emocionais são a empatia, humildade, compostura, confiança, entre outras. Já o outro grupo, segundo Averbach, é formado pela capacidade de “aprender como influenciar pessoas, e influenciar para o bem.” Manipular é outra história.

Essa influência começa com a busca por informação. O líder ampara a tomada de decisão nas informações que possui. Ele não pode decidir coisas importantes sozinho, com base apenas na hierarquia ou na própria experiência. De acordo com Averbach, o líder precisa conversar com o chão de fábrica, com os vendedores. “O líder tem de ter o pulso do que está acontecendo. Se ele não vai direto à fonte, a informação vem truncada.” 

Outra questão interessante: toda competência tem um ponto ideal. Mas as pessoas acreditam que quanto mais alguém tiver determinada competência, melhor. Vejamos: é benéfico ser extremamente humilde? Pode ser tão prejudicial quanto ser arrogante. Ou: você é um gerente que fiscaliza tudo, ou que simplesmente não acompanha o desempenho da equipe? Achar o ponto ideal entre os extremos das habilidades é o desafio.

Minha busca inicial era sobre situações ambíguas. O entrevistado dá um exemplo que une os dois conceitos: “Você recebe orientação de uma pessoa e daqui a pouco recebe orientação de outra. Quem tem baixa inteligência emocional vai estourar.” 

E quem tem equilíbrio emocional vai tentar resolver.