Uma reportagem do jornal Diário Catarinense mostra, literalmente, as
mutilações sofridas por menores de idade no local de trabalho. Segundo a
reportagem, Santa Catarina é o sexto estado no ranking de flagrantes de
trabalho infantil e o quarto da lista de acidentes de trabalho: 169 crianças
foram vítimas de acidentes de trabalho em Santa Catarina em 2015.
Muitos desses acidentes acontecem na propriedade rural, ou na pequena
fábrica da família. Queimaduras, amputações – sequelas que permanecerão por
toda a vida.
Os mais antigos dizem que trabalhavam muito quando eram crianças. E que o trabalho é (porque foi) necessário para a formação pessoal. Tem certa lógica – ainda mais quando observamos a inércia adolescente.
Vamos partir desse principal argumento de quem defende o que vou chamar
de trabalho infanto-juvenil: até que ponto trabalhar na roça ou na fábrica da
família vai formar um adulto melhor? Isso acontecia num cenário de subsistência,
de carência de recursos. Mas e hoje?
A mim me parece que estamos perdidos no tempo, em algum debate errado do
século passado. Precisamos melhorar o desenvolvimento intelectual das crianças
e adolescentes. Mas o nosso atraso é tão grande que estamos resgatando menores
presos em máquinas, trabalhando sem orientação – e na maioria das vezes ao lado
de um familiar.
O trabalho infantil é também um aspecto cultural. Ele existe porque pais
e avós trabalharam e foram educados assim. O mundo hoje é outro. E essa crença
precisa ser combatida.
Se queremos crianças e adolescentes com mais responsabilidades, acho que
poderíamos observar aquilo que eles sabem fazer. Combinar suas habilidades com
um desenvolvimento voltado para o futuro. Por exemplo: sabemos que nessa faixa
etária perde-se muito tempo com distrações tecnológicas. Os pais e as escolas
tentam proibir. Quem sabe seja melhor incentivar, de forma que esse hábito gere
benefícios para todo mundo.
Um exemplo: hoje de manhã eu conversava com o proprietário de uma
cambaleante empresa familiar. Ele mal sabe responder um e-mail. Mas tem um
filho de 16 anos estudando numa escola técnica. Sugeri que o rapaz assumisse os
canais de comunicação da firma (Facebook, por exemplo), hoje abandonados. Tenho
certeza, mesmo sem conhece-lo, de que ele faria um bom trabalho.