terça-feira, 30 de julho de 2013

Eles não saem de casa

Muitas empresas não conseguem tirar os clientes de casa. Abandonar o conforto do lar? Apenas se for algo absolutamente necessário. Alguns exemplos:

O cinema concorre com TVs finas e enormes, munidas de centenas de canais surrupiados por um receptor pirata. Por que tirar o carro da garagem, enfrentar trânsito, passar frio, sentar ao lado de pessoas estranhas e pagar caro pela pipoca e pelo filme se eu posso ficar refestelado no sofá sem ser incomodado? Será que só o tamanho da tela justifica tanto esforço?

Os bares e restaurantes sofrem com o medo da violência e da Lei Seca. É melhor virar a noite acordado, escapando da blitz, gastando dinheiro e acordando de ressaca ou (lembre-se, leitor, da nossa tendência ao comodismo) arrumar uma namorada ou esposa e acordar cedo e sóbrio no domingo? Talvez o maior dilema do homem pós-moderno.

O varejo é ameaçado pelo comércio eletrônico. Por que encarar um vendedor focado em metas e comissões dizendo o que eu devo comprar se eu posso confortavelmente comparar preços e atributos sem ser incomodado? É realmente preciso ir até a loja, assinar o cheque e voltar com uma máquina de lavar no porta-malas entreaberto, como se fazia antigamente em 1999?

As faculdades perdem alunos para os cursos online, à distância. Sem entrar no mérito da qualidade: quantos heróis trabalham o dia todo e bravamente resistem em sala de aula até as 22 horas da madrugada, enquanto outros fazem provas e trabalhos na cama, assistindo a novela? 

As igrejas perdem fiéis. Ninguém virou ateu. Ninguém vendeu a alma. É que dá trabalho sair de casa, ir à missa e encontrar aquele vizinho chato. Melhor repetir um Pai Nosso antes de dormir, imaginando a tristeza de ter que sair de casa cedo no dia seguinte.

Muitos encaram essa realidade enclausurada com preocupação. Sinal dos tempos e da tecnologia, lamentam. Mas alguns percebem oportunidades nesse comportamento fechado do consumidor. Lembre-se: o seu cliente não quer sair de casa. Não questione se ele está certo ou errado. Se você não pode ir até ele, dê a ele um bom motivo para mudar de ideia.