Estou lendo "Cartas a
um jovem poeta", de Rainer Maria Rilke. O livro é a simples compilação de 10
cartas enviadas por Rilke em resposta a um aspirante a poeta, o jovem Franz Kappus.
Kappus mandou seus poemas para Rilke avaliar.
Rilke evitou julgar a qualidade
dos versos. A justificativa do grande poeta é avassaladora: "As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis
e dizíveis quanto se nos
pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra
nunca pisou".
Na sequência, Rilke orienta e questiona o jovem
poeta: "O senhor está olhando para
fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar - ninguém. Não há
senão um caminho. Procure entrar
em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos
recantos mais profundos de sua
alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto, acima de tudo, pergunte a si mesmo na
hora mais tranquila de sua noite:
Sou mesmo forçado a escrever?" Quem escreve de verdade
entende o que Rilke quer dizer.
Kappus decidiu publicar as cartas alguns anos após
a morte de Rilke. Na última frase
da breve introdução do livro, o já adulto Kappus humildemente conclui: "Quando fala um dos
grandes, que só uma vez aparecem,
os pequenos devem calar-se".
Escrever é uma necessidade. Quando escrevo tento
olhar para dentro – sigo, mesmo que tropeçando, o caminho indicado por
Rilke. E sou contemplado com o teu silêncio,
leitor: durante alguns minutos, você
calado enquanto eu falo. E nem sou grande como Rilke, sou pequeno e mesquinho, muito menor que Franz Kappus.
Por isso agradeço imensamente os
momentos de silêncio que você dedicou a estas linhas em 2012.