segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Dois jornalistas e a última virgem


Minha primeira formação acadêmica é o jornalismo. Não o exerço plenamente – não no sentido de frequentar uma redação ou ganhar a vida noticiando. Mas faz tempo, desde antes da academia, que admiro, comparo e palpito a respeito do que é divulgado como notícia. Deixei de lado o esforço da imparcialidade e da objetividade e, quando escrevo (fora do campo acadêmico ou profissional), o intuito vai da provocação comedida ao simples desabafo.

Jornalistas vem e vão. Ultimamente, parece que muitos vão, um ou outro vem. Há alguns anos, por exemplo, morreu o quase anônimo Fausto Wolff. Tratava-se de um comunista alcoólatra e inconformado, que escrevia como poucos. Dediquei um texto a ele na época, descrevendo as circunstâncias em que eu me encontrava quando ouvi a notícia de sua morte (seria imprudente relembrar essa história aqui). Nunca compartilhei o proselitismo ideológico daquele senhor, mas devo a ele alguma parte imensurável deste meu amador ofício de escriba.

Devo muito menos a Joelmir Beting. Ele faleceu na madrugada do dia 29 de novembro. Estava com 75 anos – 55 dedicados ao jornalismo.  Devo a ele apenas a alegria de uma frase, de um momento de alívio e alento. Explico.

Por acaso a TV estava sintonizada no Jornal da Band. Noticiavam o caso da moça catarinense que leiloou a virgindade na internet.  O vencedor foi um senhor do Japão, ao bater o martelo em estonteantes 780 mil dólares.

Era a notícia que encerrava aquela edição.  E Joelmir Beting, na despedida (foi a última vez que o vi), comentou: “Sorte da moça que é um japonês!”.   

Foi-se o ultimo comunista. Foi-se a última virgem. Foi-se Joelmir, e o telejornalismo brasileiro fica ainda mais chato, monótono e previsível.