Minha primeira formação acadêmica é o jornalismo. Não o
exerço plenamente – não no sentido de frequentar uma redação ou ganhar a vida
noticiando. Mas faz tempo, desde antes da academia, que admiro, comparo e palpito a respeito do
que é divulgado como notícia. Deixei de lado o esforço da imparcialidade e da
objetividade e, quando escrevo (fora do campo acadêmico ou profissional), o
intuito vai da provocação comedida ao simples desabafo.
Jornalistas vem e vão. Ultimamente, parece que muitos vão,
um ou outro vem. Há alguns anos, por exemplo, morreu o quase anônimo Fausto
Wolff. Tratava-se de um comunista alcoólatra e inconformado, que escrevia como
poucos. Dediquei um texto a ele na época, descrevendo as circunstâncias em que
eu me encontrava quando ouvi a notícia de sua morte (seria imprudente relembrar
essa história aqui). Nunca compartilhei o proselitismo ideológico daquele
senhor, mas devo a ele alguma parte imensurável deste meu amador ofício de
escriba.
Devo muito menos a Joelmir Beting. Ele faleceu na madrugada
do dia 29 de novembro. Estava com 75 anos – 55 dedicados ao jornalismo. Devo a ele apenas a alegria de uma frase, de
um momento de alívio e alento. Explico.
Por acaso a TV estava sintonizada no Jornal da Band. Noticiavam
o caso da moça catarinense que leiloou a virgindade na internet. O vencedor foi um senhor do Japão, ao bater o
martelo em estonteantes 780 mil dólares.
Era a notícia que encerrava aquela edição. E Joelmir Beting, na despedida (foi a última
vez que o vi), comentou: “Sorte da moça que é um japonês!”.
Foi-se o ultimo comunista. Foi-se a última virgem. Foi-se
Joelmir, e o telejornalismo brasileiro fica ainda mais chato, monótono e
previsível.