segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O brasileiro sem jeito


Um estudo da Harvard Business School encontrou uma relação entre o ato de dar gorjeta
e a corrupção. Uma matéria da revista Veja da semana passada comenta o artigo. Eu,
humildemente, também.

No estudo Here's a tip: prosocial gratuities are linked to corruption (algo como "Aqui vai uma
gorjeta: gratificações pró-sociais estão ligadas à corrupção”) os pesquisadores cruzaram dados
recolhidos em 32 países. Os resultados apontam que, em geral, países onde o hábito de dar
gorjeta é comum são países notoriamente corruptos, como Brasil e Argentina.

Será que atitudes aparentemente opostas - filantropia e corrupção - podem estar intimamente
ligadas?

Os autores admitem que o estudo não é conclusivo, até porque em alguns países onde a
pratica da gorjeta é comum a corrupção é pequena. Mas esta aparente contradição revela a
parte mais interessante do estudo.

Os autores se detiveram entre dois países: o correto Canadá e a corrupta Índia. A prática da
gorjeta nos dois países é semelhante, mas o nível de corrupção é totalmente oposto. Os
autores então questionaram os cidadãos buscando saber o que motivava as aparentemente
ingênuas doações de dinheiro.

No Canadá, a gorjeta costuma ser uma recompensa por um serviço bem prestado. Na Índia a
gorjeta é dada, em geral, para garantir algum benefício futuro. E na Argentina? E no Brasil?

Assim, a expectativa futura decorrente da gorjeta se assemelha ao suborno. Nosso
famoso "jeitinho brasileiro", citado no estudo, é um exemplo da propina em forma de
benevolência.

Por aqui é bonito ser malandro. Mas ao mesmo tempo todos criticam a corrupção, e nem
percebem que carregam esse gene adormecido, que se manifesta em situações onde a lei ou
a norma social é um estorvo, uma barreira pessoal.

E quando essa característica obscura aparece, passa por generosidade - e a consciência
corrupta dorme tranquila.