quinta-feira, 4 de maio de 2017

Diálogos internos

Há alguns dias, num treinamento de gerentes, falávamos sobre as perigosas histórias que contamos para nós mesmos. Coisas como “eu nunca vou ser tão competente”, ou “eu não sou tão inteligente”, ou então “as pessoas me julgam”.

Nesse dia, uma gerente contou que estava voltando a estudar depois de muitos anos, e que isso estava deixando ela preocupada. Perguntei por que, e ela disse que se sentia perdida, deslocada. Perguntei por que, e ela afirmou que era muito conteúdo para estudar.

Suspeitei que este não era exatamente o problema. Debatendo, percebemos que ela estava se achando velha em comparação com os colegas de faculdade de 18 anos, maioria na turma.

Com a ajuda da equipe de gerentes, mudamos essa perspectiva: ela tem experiência enorme na área. Se ela quiser, vai se tornar referência para os mais novos: esses sim, perdidos, vindos de um ensino médio caótico, e sem uma ideia clara de como vai ser o futuro.

Outro apoio importante nessa orientação: os gerentes que já haviam feito faculdade, deixaram claro para ela que a faculdade não ensinou eles a trabalhar. Eles tiveram que aprender tudo na prática, assim como ela aprendeu. Se um alienígena olhasse para a situação, creio que ele perguntaria algo assim: “Por que essa moça experiente está fazendo esse curso de noções básicas? Por que ela se sente na obrigação de ter isso que vocês chamam de diploma? E esses jovens inexperientes, depois de 5 anos de estudo, vão perceber que aprenderam pouco sobre a prática, a realidade?”

Mas o ponto hoje não é questionar nosso jeito arcaico de ensinar. Quero chamar a atenção para os absurdos que repetimos para nós mesmos, todos os dias, durante anos, durante a vida toda. No exemplo citado, a aluna mais experiente da sala, que poderia estar ensinando aquela turma, fala para si mesma que é velha e que está muito tempo sem estudar formalmente. Ou ela muda esse discurso, ou vai passar o resto da faculdade quieta, num canto, achando que está sendo julgada.

O que falamos para nós mesmos é o que imaginamos que os outros pensam sobre nós. E isso é crítico, é avassalador. Mas também é uma ilusão: raramente alguém vai dedicar tempo para pensar, julgar, avaliar você. Todos temos nossos problemas, nossas batalhas internas, todos os dias. Para a maioria de nós, sobra pouco tempo para se preocupar com os outros.