terça-feira, 9 de maio de 2017

A sua missão

Prezado leitor, imagine a seguinte situação.

A sua filha se apaixonou perdidamente aos 14 anos. O rapaz não tinha uma fama muito boa. Mas ela jurava que ele estava mudando. Você tentou intervir, aconselhar, mas sem sucesso: sua filha chorava e não tinha jeito de orientá-la. Contrariado, você acabou cedendo, e deixou ela errar e aprender sozinha.

E obviamente o esperado aconteceu: o rapaz aprontou bastante (dizem que a melhor maneira de prever comportamento futuro é olhando o passado. As pessoas mudam, sim, mas em geral mantém a essência). Sua filha sofreu. Mas com o tempo superou.
Dez anos depois, a filha está casada com outro rapaz, o oposto daquele traumático primeiro amor (e qual não é?). Mas ao relembrar o passado, ela culpa os pais pelo acontecido. Ela afirma que eles deveriam ter impedido. E a mãe responde: “Mas como, era impossível falar qualquer coisa, você não ouvia!” E a filha sentencia: “Eu tinha 14 anos, não sabia o que estava fazendo. É papel dos pais educar e orientar o filho.”
E agora, quem está certo, quem está errado?

Há alguns dias presenciei um exemplo, não tão dramático, mas semelhante. Era uma capacitação, com um ótimo instrutor, reconhecido por todos. Uma boa equipe de alunos, mas muita conversa, desatenção. E o instrutor, talvez intimidado, deixou por isso mesmo. Ele quis ser gente boa, não criar conflitos.

O problema é que os alunos não vão avaliar essa postura de amigo, tolerante. Ele foi julgado por não ter pulso firme. Por não ter feito o papel que se esperava dele. É uma opção de qualquer profissional: ou ele tenta agradar, ou ele lidera e dá o exemplo.

Falamos tanto sobre liderança, mas em geral o assunto fica na crítica ao chefe autoritário, que não sabe guiar a equipe. E então o chefe acredita que se souber ouvir e for mais democrático os problemas serão resolvidos. Essa postura aberta pode representar um primeiro passo. Mas o verdadeiro desafio do líder (pai, mãe, chefe, ícone) é entender o que importa no longo prazo, e fazer os sacrifícios necessários no presente. E isso não é tarefa fácil — no menor descuido, cedemos ao agrado, esquecendo valores, motivos e objetivos.

Qual é o seu papel, o seu dever, a sua missão? Faça. Não importa se os envolvidos reclamarem durante a sua ação. Esperamos, no fundo, que você faça o que é certo. Não ouça os lamentos que levam à conivência, ao menos trabalhoso. Se não seguir sua missão, as mesmas pessoas que você quer agradar avaliarão e responsabilizarão você por isso.