quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Fanáticos impressionantes

Aconteceu comigo há alguns dias: um vendedor de um tipo de filtro me abordou durante uma aula. Fiquei interessado no início, já que o produto que ele representa tem relação com uma empresa aonde presto consultoria.

Mas daí ele começou a falar de uma substância que só o filtro dele retira. Que todos os concorrentes não funcionam direito. Que a indústria não divulga isso. E aí eu perdi o interesse em uma eventual parceria. Eis a primeira impressão (aquela que fica!) que ele passou.

Uma abordagem inicial muito radical, ao invés de convencer, repele. Espanta. E o pior é que isso é bem comum, especialmente em vendas. Como se ainda estivesse nos anos 1980, o vendedor se comporta como o dono da verdade. Como se o consumidor não estivesse informado. Como se hoje não fosse possível, com alguns cliques, entender do que se trata.

Comentei a questão com uma amiga minha e ela lembrou do pessoal que começa a trabalhar com "marketing em rede", ou "marketing multinível": aqueles sistemas em que você, além de vender, credencia pessoa para vender com você (e para você). Em geral, eles acreditam que aquilo que vendem é superior. Que o povo não sabe a verdade sobre aquela nova maravilha. Vira fanatismo. E o fanático quer (e precisa) provar que está certo. A propósito, agora, em período eleitoral, é que recém convertidos, com seus radicalismos, aparecem do nada (volto ao tema em breve).

Perceba, leitor: não se trata de questionar qualidade ou jeito de vender: a abordagem radical, não importa a situação, não funciona.

Para facilitar a vida, gostamos de interpretar o mundo assim: o certo de um lado, o errado do outro. Os bons contra os maus. A mulher traía, o homem era um coitado. Ou ele não valia nada e ela era uma santa. As coisas não são tão simples. Quem radicaliza está impondo respostas simples para questões complexas.

E o que aprender com esse erro de abordagem e postura? Todo e qualquer radicalismo revela, de cara, quem você é. Causa uma primeira impressão negativa, difícil de ser mudada. Vender ideias e construir parcerias depende muito mais de saber ouvir, saber perguntar, ter exemplos para dar. Depende, enfim, de humildade – por mais que você saiba mais do que o consumidor ingênuo.