quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A formação das causas

Guardo lembranças antigas que são bastante representativas na minha formação profissional. E especialmente no meu jeito de ver o mundo.

Por exemplo essa: lá pela adolescência, um parente mais velho me disse que, se o pai dele tivesse ajudado ele financeiramente, ele teria muito mais dinheiro do que tinha na época. Ele tem uma história interessante de superação e crescimento financeiro. E eu lembro de ter comentado que se o pai dele tivesse ajudado, provavelmente ele não teria trabalhado e construído tanto. E eu lembro que ele refletiu e concordou, e eu gostei muito de ter encaixado aquele comentário. Hoje essa conclusão é óbvia – na época não era.

Conto essa história para ilustrar uma injustiça que cometemos sempre que justificamos nossos problemas culpando terceiros. Esquecemos que nossas qualidades também são decorrentes desse mesmo comportamento ausente dos pais, por exemplo. Meu primo se tornou um batalhador porque nunca teve nada. Não que ele deva agradecer ao pai por isso. Mas quem garante que o pai não criou esse cenário de privações para criar um homem forte e independente? Você, pai, sabe que seu filho será o resultado das experiências que ele vai encarar? Erros e acertos geram aprendizado, lições de moral são esquecidas.

Imagine agora uma pequena empresa em um momento difícil. O empresário vai culpar a crise, com razão. Mas da mesma forma, se não fosse a crise, ele não teria cortado gastos desnecessários. Não teria mudado sua forma de divulgar e vender. Não teria encontrado novas soluções e novos mercados. E se nada disso foi feito, de quem é a culpa?

Lembro que uma vez um gerente me disse que sempre se preocupou muito com momentos de crise, mas que, olhando para sua trajetória, ele percebia que apenas nesses momentos ele crescia profissionalmente. Em momentos bons, funcionários medíocres são tolerados, passam despercebidos. Em momentos difíceis, só os bons e essenciais se destacam.

Já escrevi aqui que não gosto de falar que a crise é uma oportunidade. Entendo a situação difícil que muita gente enfrenta nesses momentos. O que não é justo é culpar a crise por todos os problemas. Só é justo quando aquele que reclama admite que a crise também é responsável pelas consequências positivas que não acontecem num mar calmo.