quinta-feira, 28 de julho de 2016

Valores contaminados

O que acontece quando o funcionário não concorda com os valores da empresa? Ele vai embora? Pode ser. Ele fica? Se fica, não tem escapatória: os valores da empresa vão moldar ele também.

Por outro lado, os valores do funcionário dificilmente modificam a empresa. O motivo: as pequenas empresas, em geral, não estão interessadas em aprender e mudar com as pessoas que contratam. Elas vão pagar para cobrar o jeito que as coisas devem ser feitas.

Dessa forma, quando o funcionário não concorda com os valores praticados pela empresa (ética, respeito, honestidade) ele tem algumas opções. Uma delas, a mais nobre e menos frequente, é se revoltar e pedir para sair.

O problema é que gestos nobres nem sempre pagam as contas. E muita gente acaba aceitando essa realidade. Mas aí vem o efeito colateral: abrir essa exceção moral e fazer parte de uma empresa desonesta torna o funcionário desonesto também. Ele vai ser moldado por esse comportamento. E vai praticar desonestidades por aí (a não ser que o funcionário realmente não saiba do que se passa nos bastidores – algo difícil de não ser notado em pequenas empresas).

Ou seja: se a sua empresa não pratica valores, você está adquirindo, sem perceber, as mesmas características dessa cultura que você respira de segunda a sexta. Ou você acha que consegue deixar os seus valores guardados em casa enquanto está na firma?

E não adianta: na pequena empresa, os valores do dono ou da família são aqueles que predominam e formam a cultura, o jeito de ser. Por isso, o ideal é tornar bem claro "quem somos” e "no que acreditamos”, e deixar que os interessados se identifiquem. O mesmo acontece em empresas sem valores: consegue imaginar, empresário, o perfil de pessoa interessada em trabalhar numa empresa desonesta? Essa empresa se torna um ninho de cobras. E nesses lugares, é difícil falar em bom atendimento, foco no cliente, trabalho em equipe. Falta estrutura comportamental para que as mudanças necessárias aconteçam.

Um último detalhe: há alguns dias, em uma capacitação de gerentes comerciais, uma senhora me disse que faz tempo que o sobrenome dela mudou. Chamam ela de Maria da tal loja. Ou de Lucas do Sebrae. É como um casamento. Vale a pena pensar em qual sobrenome você quer ter.