quinta-feira, 16 de junho de 2016

Culpa da tecnologia

Parece que as pessoas ainda não perceberam a velocidade das mudanças tecnológicas. Talvez elas perceberam, mas é raro encontrar pessoas que aceitem o quanto o novo cenário afeta suas vidas.

Há alguns dias, uma greve de ônibus parou Florianópolis e região metropolitana. Motoristas e cobradores exigiam aumento. Isso tem acontecido com frequência, sempre no mês de maio, quando se renovam os contratos do serviço. Sindicalistas e governo entraram num acordo. Ano que vêm eles devem parar de novo e após alguns dias entrar em novo acordo. Mas vai chegar o dia em que não teremos mais cobradores. Várias cidades já adotam tecnologias simples que eliminam a necessidade de alguém cuidando da catraca e do troco. Diz o Google que, em alguns anos, o motorista também será extinto.

Mas muitas mudanças são mais sutis, e por isso mais difíceis de serem detectadas. Dois exemplos. Há alguns dias, uma amiga disse que não era justo eu criar imagens com tanta facilidade. Ela estudou design e demorou até a aprender usar softwares de edição de imagens. Eu descobri um site chamado Canva que faz um trabalho razoável e semelhante em alguns minutos. Injustiça ou evolução tecnológica facilitando o trabalho?

Outro dia, um colega de pós-graduação disse que não era justo alguém fazer um curso de graduação à distância e ter um diploma igual ao dele, que foi à aula todos os dias durante quase 5 anos. Não vou entrar no mérito da qualidade dos cursos. Apenas pergunto: injustiça ou evolução tecnológica facilitando a educação?

Fico perplexo com a quantidade de profissionais que não perceberam o quanto sua carreira está ameaçada pela tecnologia. Já vi lojas criticando abertamente os clientes da sua pequena cidade por comprarem produtos pela internet. Eles queriam que o cliente fosse até a sua loja, perdesse um tempo precioso, com dificuldade para estacionar, enfrentasse um vendedor despreparado e pagasse mais caro. Eventualmente, ele nem acharia o produto em estoque. Já falei inúmeras vezes nesse espaço: ou o comércio se reinventa (facilitando a vida do consumidor, indo até ele, resolvendo problemas) ou, aos poucos, se tornará irrelevante. A propósito, só nesse período de crise, quase 200 mil lojas fecharam no Brasil. De quem é a culpa?

Eu sou consultor e professor. Os avanços da tecnologia também podem em breve me tornar obsoleto, desnecessário. E se isso acontecer, eu prometo que não vou reclamar no Facebook.