quinta-feira, 9 de junho de 2016

A meta incondicional

É impressionante a capacidade que temos de transformar boas ideias em ferramentas destrutivas. Isso acontece em inúmeras situações, mas para explicar exatamente o que quero dizer, vamos falar, para não variar, das nossas queridas pequenas empresas. Hoje, especificamente, pequenos comércios de cidades pequenas.

A boa ideia: metas. Deveriam ser uma orientação, um incentivo. Um norte indicando para onde vamos. Quem sabe apoiar o trabalho em equipe. Mas como o pequeno varejo utiliza as metas? Em geral, individualmente, para obrigar o vendedor a trabalhar e competir. Imitando a filosofia de venda das grandes redes de lojas.

E dessa forma, os vendedores não estão preocupados em orientar, ajudar e criar confiança. Em função de um número a ser batido todo mês, os vendedores acabam sendo obrigados a convencer e iludir.

E numa cidade pequena, com poucos clientes para conquistar e aonde todo mundo se conhece, a estratégia de metas individuais e agressivas de vendas é suicida no médio e longo prazo.

Outra ferramenta fantástica, alinhada com conceitos de fidelização de clientes e redução de esforços, é o “condicional”. Ou “condi”, para os íntimos.

A ideia original era entregar o produto para que o cliente pudesse experimentar em casa, sem pressa (quem sabe fugindo do vendedor chato citado acima – ou aquela vendedora que obviamente acha lindo qualquer coisa que você provar na frente dela).

Mas o condicional virou instrumento de pressão psicológica. Você recebe duas bolsas cheias de roupas que você nem pediu. É um mistério como o motoboy da loja conseguiu trazer tudo aquilo na moto.

E a vendedora/proprietária fica magoada se você não ficar com nenhuma peça. E então você fica pelo menos com uma, já que você é amável. Mas e como fica a sua percepção da loja no médio e longo prazo?

Poderíamos ir além, e analisar o quanto abusamos da tecnologia. Criamos um perfil da loja no Facebook e adicionamos todo mundo para poder enviar propagandas invasivas. Criamos grupos de clientes no Whatsapp, afinal dá muito trabalho conversar separadamente com cada um.

Deveríamos investir em relacionamentos, já que estamos em cidades pequenas e conhecemos todo mundo. Mas estamos construindo uma imagem de xaropes desesperados pelo dinheiro alheio.