quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os jornalistas do mal

Há alguns dias, vi um desabafo assustador no Facebook. Uma pessoa criticava duramente um empresário da região. Mas não citava nomes: apenas críticas sobre uma suposta postura profissional antiética, além de ofensas pessoais fortes, dando a entender quem seria a pessoa. 

Lembrei de um tipo de jornalista: aquele colunista que critica alguém mas, para não se incomodar, não cita nomes. E o ofendido não pode reagir, pois, se contra-atacar, vai se entregar – serviu o chapéu! E também não pode provar que o alvo das ofensas era ele, pois seu nome não foi escrito.

O que eu percebo nesses casos é que o único prejudicado é o autor do desabafo. Sempre. Essa exposição pública e agressiva mostra muito sobre a pessoa que postou. Eu, por exemplo, não acredito que seja um bom profissional – imagine o que pode acontecer no seu relacionamento com colegas e clientes.

O problema é que o Facebook está ali, no bolso do revoltado, que quer contar ao mundo o que aconteceu. E a rede social gera uma falsa ilusão de proteção ao emissor da mensagem. Na verdade acontece o contrário: o alcance de algo polêmico é imprevisível. E o resultado é sempre o mesmo: a pessoa que xinga e ofende vai mostrar para muita gente como ela é, como ela atua nessas situações.

Mas vamos aprofundar a reflexão. A morte do cantor Cristiano Araújo me fez pensar na seguinte questão: será que o Facebook e o Whatsapp nos tornam pessoas más, ou eles apenas mostram quem realmente somos?

Fiz essa pergunta a algumas pessoas, e todos ficaram na dúvida. Também fiquei.

Mas vamos ser mais específicos: a pessoa que tira fotos ou filma um cadáver, é uma pessoa má? Ou fez isso sem pensar, na ânsia de compartilhar com os amigos? Será que, hoje em dia, a vontade de mostrar para todo mundo o que a gente fez, ou o que a gente viu, simplesmente atropela noções básicas de educação, respeito, bom senso e compaixão?

E aqui, mais um tipo de jornalista: é como se hoje todos fossemos jornalistas sensacionalistas. No passado, era preciso comprar um jornal que mostrasse fotos bizarras, ou ligar a TV no fim da tarde para ver as últimas dos bandidos. Hoje, todo mundo produz esse conteúdo em foto e vídeo. E todo mundo recebe.

Por isso me questiono: Somos maus, ou esse poder de falar o que queremos é que nos torna maus?

Eu não cheguei a uma conclusão, nem devo chegar. Mas não creio que somos maus. Acho que somos apenas sem noção.