quinta-feira, 5 de março de 2015

Vendendo bem o que é ruim

Ouvi uma história interessante há alguns dias: em um curso de vendas, uma participante deixou bem claro, no início do curso, que ela estava ali porque foi obrigada pela chefe. Ela disse que não queria ser vendedora, e que estava estudando para ser engenheira. Para ela, ser vendedora era temporário – e era também algo menor. Ela sentia certa vergonha de estar ali.

O instrutor, um amigo meu, perguntou: e como você vai vender seus projetos e suas ideias? Para quem você vai vender? Pois é. E poderíamos ir além e perguntar: e quando você for arrumar um emprego, como você vai “vender” o profissional que você é?

Esse é um erro comum do profissional inexperiente e deslumbrado: acha que vai se formar em alguma coisa e isso vai salvar sua vida. E vai fazer apenas aquilo que gosta. Quem já saiu da faculdade sabe que os problemas de verdade realmente começam assim que você recebe o diploma. Você estará então vendendo o tempo todo. Vendendo você mesmo e também aquilo que você faz.

Por isso, habilidades de comunicação, sensibilidade e empatia são tão importantes quanto os conhecimentos técnicos. Em alguns casos, ainda mais importantes. Saber vender (no bom sentido, sem picaretagem) sempre será um diferencial em qualquer área de atuação.

Mas aí existe outro problema: aquilo que você está vendendo (você?) é bom? As pessoas precisam do que você vende?

Os vendedores por profissão vão me dar razão: não há nada pior do que ter que vender produtos ruins.

Estou finalizando o livro Growth Hacker Marketing, de Ryan Holiday. O conceito tem sido bastante comentado entre as empresas de tecnologia, e pode ser aplicado por aqui. A reflexão é a seguinte: tentamos elaborar propaganda e divulgação de produtos ruins. Ou talvez nem seja ruim: simplesmente não se encaixa no mercado. Os esforços de marketing, portanto, deveriam ser para ajustar o produto ou serviço, e não para tentar vende-lo a qualquer custo. 

A ideia pode parecer óbvia, mas ela está no centro de diversos equívocos que cometemos: treinamentos de atendimento e vendas para ensinar a empurrar produtos que os clientes não precisam, treinar técnicas de persuasão, além das inúmeras ações de marketing. Tudo num esforço desesperado de empurrar produtos e serviços que não despertam interesse.

Será que, ao invés de investir em propaganda e treinamentos, não seria mais interessante dedicar tempo e dinheiro para melhorar o que é vendido?