quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O eleitor errado

Há alguns dias, em uma confraternização, ouvi o discurso de um senhor de uns 50 anos. Segundo ele, “político é tudo ladrão”. E que o certo seria “jogar uma bomba no congresso”. Entre outras ideias brilhantes. Já fui de discordar e tentar argumentar. Ou dependendo do humor apenas concordava para não perder o amigo. Hoje em dia, educadamente me retiro.

Claro que ele não era um terrorista. É só mais um que replica lugares-comuns. Não dá uma certa tristeza ver alguém com meio século de vida falando com a gravidade de um adolescente?

Para esta reflexão, não vou questionar se os políticos são todos ladrões. Vamos aceitar o fato de que isso é o que a maioria pensa. Logo, surpreende essa expectativa do povo de que o Estado – operado pelos políticos – vai salvar a nação. Se os políticos são corruptos, como confiar neles? Por que achar que o Estado vai proteger você e a sua família?

Se políticos são corruptos e não confiamos neles, deveríamos limitar seus poderes, certo? Ou o povo não liga para a corrupção e espera por alguém que “rouba mas faz”?

Para ilustrar, apenas um exemplo: as rodovias. Reclamamos que os políticos são corruptos, mas deixamos o Estado cuidar das estradas. As estradas do oeste de Santa Catarina são uma viagem em família, de Gol mil, ao Mato Grosso dos anos 1990. E morre gente o tempo todo. Muitas vezes a culpa é da imprudência, mas o ser humano é imprudente. O que estamos fazendo é uma mistura explosiva: imprudência com estradas destruídas. A imprudência não mata tanto em estradas boas.

Parece que seria mais coerente que o Estado apenas regulasse o trabalho de empresas privadas que construíssem e mantivessem as rodovias. Eu confio numa empresa que procura bons funcionários e que cobra resultados. Eu não confio em governos que escalam comparsas para administrar vidas.

O Estado, consequentemente, cobraria menos taxas de trânsito, e quem precisasse dirigir que pagasse pedágio. No sistema atual, todo mundo paga imposto para remendar rodovias – até quem nunca passa por essas estradas.

Opa, pagar pedágio? Eis o problema: diante da ameaça de assumir responsabilidades, os políticos nem parecem ser tão corruptos. E a estrada nem é tão ruim, dá para seguir viagem.