Em cidades pequenas o problema endêmico da violência não
costuma existir. Pessoas são relativamente mais livres de assaltos, por
exemplo, seja em locais de grande ou de pouca circulação. O único local onde as
pessoas precisam cuidar para não ser assaltadas é dentro de algumas lojas – em
geral, redes enormes, de cultura de venda agressiva, igual acontece... nos
grandes centros.
Estou exagerando? Então converse, leitor, com quem já
trabalhou em grandes redes de lojas e pergunte como é, por exemplo, o
treinamento de vendas. Ou então dê uma rápida busca no assunto, e você vai
encontrar matérias como essa, do G1: “Em um dos casos, uma senhora que havia
comprado diversos produtos percebeu, ao chegar em casa, que havia adquirido também
um seguro de vida e um seguro para trabalhadores sem renda. A senhora era
aposentada.”
Na mesma matéria, o diretor de Proteção e Defesa do
Consumidor do Procon, Amaury Oliva, comentou: "Muitas vezes, o seguro
entra no parcelamento e o consumidor nem percebe. Ainda assim, são serviços
caros, embutidos na compra de um eletrodoméstico, de um celular, sem que tenha
sido solicitado, ou que o consumidor precise dele."
Há alguns dias fui questionado na sala de aula sobre o que
um vendedor deve fazer quando não concorda com essas políticas agressivas de venda.
Eu não tenho dúvidas: deve sair o quanto antes. Isso acontece com frequência:
os valores do funcionário e da empresa não combinam. E uma das partes passa a
tolerar os desmandos da outra.
Digamos que, como eu, você foi educado para sempre respeitar
os mais velhos, não importa quem ou como eles sejam. Daí uma senhora entra na
loja em que você trabalha, e você fora orientado a insistir para o cliente
parcelar a compra em 24 vezes, para que a loja possa cobrar juros. E você também
foi orientado a “embutir” (termo técnico do varejo cruel) garantia estendida e
algum tipo de seguro sempre que for possível. E além disso você trabalha com
uma meta obesa cutucando suas costelas. O que você vai fazer: engolir a presa
ingênua e indefesa? Ou encontrar o que a pessoa precisa e resolver o seu
problema, da maneira que você gostaria que fizessem com a sua mãe? A decisão
moral é sua, vendedor, e não da sua empresa.
Como é boa a vida em cidades pequenas. A paz das ruas compensa
a escassez de cultura e entretenimento. Deixe seu avô e seu filho andarem
tranquilos pela cidade. Mas oriente que eles não entrem desacompanhados em
algumas lojas. E que não aceitem supostos benefícios de vendedores estranhos.
Eu sou ingênuo e tenho um sonho: as pequenas empresas
familiares fazendo diferente, humanizando a relação comercial.