Um detalhe curioso: não só as virtudes combatem os pecados. Alguns pecados se contrapõem, e um parece anular o outro. Por exemplo: a avareza, ou ganância, e o seu oposto, a preguiça. A temperança, como descrita acima, consegue evitar a preguiça e a ganância ao representar uma postura equilibrada?
Pode ser que isso seja possível, mas digamos (ou digo eu, já que o texto é meu) que seja impossível. E que você tenha que optar entre ser um ganancioso ou um preguiçoso. Uma decisão totalmente sua.
Na raiz desse dilema habita uma dúvida que a ciência já tentou responder: a ganância é genética ou é uma opção de vida? E a preguiça, nasceu com você ou foi uma escolha, ou uma consequência da indiferença? Ou ainda influência do meio em que você foi criado e vive? Quando foi que você se fez a pergunta crucial: vale a pena o sacrifício? Ou é melhor deixar acontecer?
De alguma forma, a ganância move o mundo. Quem já assistiu ao grande filme “Wall Street – Poder e Cobiça”, viu o milionário especulador Gordon Gekko (Michael Douglas, Oscar de melhor ator pelo papel) afirmar que a ganância é boa (“Greed is good!”). Gekko atropelaria qualquer princípio ético para satisfazer suas ambições. Mas não é preciso ser um fanático da causa: pregar a ganância é, de uma forma extrema, valorizar a meritocracia e a individualidade.
Os dois vícios, ganância e preguiça, se opõem: mas um deles é mais fácil de ser administrado, pois dá menos trabalho. A ganância cansa, tira o sono. A preguiça não: ela pode ser automática, como a inércia. Logo, a opção por crescer e enriquecer é sua – sugere-se, no entanto, que isso seja feito com certa temperança. E ser medíocre, lamento, ou é algo que nasceu com você (na melhor das hipóteses), ou é uma opção sua: por mais que você imagine que seja consequência da falta de sorte ou de uma vida injusta.