segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O preço da estabilidade

Digamos que após anos de abnegação e muito estudo, você enfim passou! Sucedem-se então meses de angústia, o vizinho torturando você toda semana com a mesma pergunta: “Ainda não te chamaram?” Apesar de afirmar a todos que o dia se aproxima, por dentro a preocupação e a ansiedade te judiam. E num dia lindo de sol, você é convocado.

Relembra vagamente o primeiro dia na escola. Só que dessa vez você não chega no início do ano letivo. As aulas já começaram faz tempo. Colocam você numa mesa, sob olhares estranhos, e você não sabe ao certo o que irá fazer. Quem queria mudar o mundo e fazer só o que gosta, ou – ai de mim, Senhor! – só o que ama?

Bastam alguns meses e você já é da casa. É a tão sonhada estabilidade que você vislumbrava antes de adormecer, enquanto praguejava ajustando o despertador. É delicioso o banho de realidade que agora você toma, e ninguém bate na porta pedindo que você economize água e luz.

No entanto, alguns detalhes foram omitidos do seu sonho. Entra mês, sai mês, e o trabalho se repete – você é uma parte que ignora o todo. E você percebe que a maioria dos seus colegas não gosta do que faz, riscando a lápis o longo calendário da amarga rotina.

E você, a princípio, não entende a reclamação alheia. Mas um dia, na sala do café, percebe envergonhado que já replica os mesmos argumentos. Quer mais benefícios. Conta as horas para chegar o almoço. Reclama aos céus que ainda é terça. E o chefe, esse puxa-saco de outro chefe maior?

Sua vida agora é estável, e tem bons momentos: à noite, nos finais de semana e nos feriados. Se Deus quiser, você pensa, no próximo ano teremos mais feriados nas terças e quintas. Daí enforcamos a segunda e a sexta em praça pública. Literalmente.

Mais de 120 mil vagas devem ser preenchidas através de concurso público em 2013. Estima-se que 12 milhões de brasileiros estejam estudando para as provas.