Tem tudo a ver, mãe. Peço desculpas aqui, por escrito. A
tragédia de Santa Maria é o nosso 11 de setembro. A única diferença é o perfil
dos terroristas.
Nossos terroristas são picaretas, desinformados e
negligentes. Eles não têm um livro sagrado – mal sabem ler, refestelados no
sofá. Lá longe o que mata é um atentado suicida. Aqui é a displicência, a embriaguez, a gambiarra.
Nossos terroristas, acredite, são mais hereges que os deles.
Eles justificam seus crimes alegando que foi uma fatalidade, ou o destino ou,
heresia maior, alegam que foi vontade divina. Lá, Deus é o motivo. Aqui, Deus é
a desculpa.
Nossos terroristas contam com o apoio velado dos moralistas.
Maltratando a língua portuguesa e os que sofrem, questionam nas redes sociais
os hábitos e costumes dos envolvidos. Como se Deus abandonasse os seus em
função de um comportamento que eles (eles!) julgam inadequado. Se lhes falta
misericórdia, que tenham ao menos a decência de um silêncio decoroso. Quantos
“curtir” lhe renderam a dor alheia?
Nossa ameaça é tampouco um movimento separatista. Nossos
terroristas não reivindicam nada: são apenas malandros inconsequentes,
especialistas no jeitinho brasileiro. Eles são os responsáveis por tornar seu
país um local onde se vê de tudo – menos as fatalidades.
Estou há dias procurando uma maneira de terminar este texto.
Escrevo e apago – não encontro as palavras. As duas pessoas queridas não deram
notícia. Elas foram a devastadora notícia. Palavras, por mais bem escritas, não
importam mais.