segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sobre a utilidade das pesquisas

A francesa Esther Duflo criou uma rede de pesquisadores que avaliam os investimentos sociais a partir de métodos científicos. Os pesquisadores vão a campo para avaliar o que funciona quando se trata de investimento social: algo fundamental num campo dominado pelo uso da retórica e até da picaretagem (mais aqui, no site da INFO).

Com seu método de pesquisa, Esther Duflo conquistou a admiração de Bill Gates, criador da Microsoft e notório financiador desse tipo de estudo: consta que ele já doou mais de U$$ 20 bilhões a iniciativas sociais.

Um bom exemplo introdutório: nos anos 90, o economista Michael Kremer demonstrou que a distribuição gratuita de livros em escolas rurais da África não melhorava o desempenho. Não é preciso nem entrar no mérito da qualidade das publicações.

Algo semelhante por aqui é a falácia de que, se distribuirmos tablets e notebooks, a educação melhora. O que aumentaria, sem dúvida, é a propagação de bobagens em redes sociais. Não existem soluções fáceis para problemas complexos.  

A pesquisas de Esther Duflo seguem essa lógica de avaliação, porém emulando procedimentos de testes clínicos: a mesma população é separada em duas amostras. Uma delas é submetida à solução proposta para determinado problema e, a outra metade, permanece como está.

Duflo percebeu a importância do comportamento das pessoas para alcançar a eficiência. Um exemplo: na Índia, mesmo de graça, as crianças não eram vacinadas. Com um pequeno incentivo – um pacote de lentilhas – as vacinações foram um sucesso (Alunos: alguma relação com o comportamento do consumidor no incentivo ao feedback do pós-venda?).

Duflo constatou também os problemas da oferta de crédito para famílias pobres: em geral, elas ficam ainda mais endividadas, pois o dinheiro recebido não costuma estimular o empreendedorismo...  

E como adotar métodos científicos para o mercado, para o ensino, para as políticas públicas? Até nossas pesquisas, que deveriam trazer a luz, são pouco científicas, carentes de método e objetivo. Apenas refletir e buscar similaridades em trabalhos como o de Esther Duflo já é um alento para o nosso amadorismo.