Um parente próximo
resolveu abrir um escritório numa cidade pequena. Ele já fazia trabalhos de assessoria,
mas trabalhando mais em casa, ou diretamente na empresa do cliente. Como queria
profissionalizar sua atuação, alugou uma sala comercial. Dessa forma ele pôde
atrair novos clientes e focar no trabalho de forma mais estruturada, certo?
Outro amigo possui há
décadas uma oficina mecânica. Para quem trabalha nesse ramo, o espaço físico em
geral representa o início das atividades. E este espaço sempre representou um ponto
de encontro de clientes e amigos. Ao longo do dia, especialmente de manhã, a
oficina recebe dois tipos de público. Quais seriam? Homens e mulheres? A classe
social A e a classe C? Não. Os dois públicos, basicamente, são aqueles que vem
para se gabar, e aqueles que vem para se queixar da vida. Todos os dias.
E lá no escritório do meu
parente, o que trouxe a nova sala comercial? Na maior parte do tempo, amigos,
conhecidos, visitas. Com o objetivo de tomar chimarrão, prosear, fofocar,
reclamar, esperar o horário do banco.
No meu trabalho convivo com gerentes comerciais que recebem
os clientes em uma sala nos fundos da loja. O que deveria ser relacionamento
com clientes, negociação, resolução de problemas, vira facilmente um local
reservado ao desabafo e à conversa fiada.
Temos uma noção confusa de o que é trabalhar. Confundimos
com frequência o trabalho que precisa ser feito com essa rotina de interações. Ouço
iniciantes preocupados em arrumar um local para trabalhar – antes mesmo de ter
trabalho, produto, clientes. Cuidado: para garantir um nível mínimo de
produtividade, pode ser necessário blindar-se. Para quem está começando, a tal
sala comercial nem sempre é uma prioridade.
E para quem realmente precisa de um espaço para trabalhar,
precisa também pensar no design da produção e da entrega. Lembro de uma
costureira que, há alguns anos, relatou problema semelhante em uma consultoria:
ela não conseguia render no trabalho porque apareciam visitas o tempo inteiro.
Ela trabalhava na sala de casa: um convite às vizinhas desocupadas. Ela
diminuiu o problema dividindo o espaço, colocando a costura em um local
separado, sem sofá, cadeira e chimarrão. Não foi preciso tocar as visitas
embora: o ambiente molda o comportamento – dos amigos, dos clientes e da
própria equipe.