quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Os bons inimigos

O bom é inimigo do ótimo? Ou o ótimo que é inimigo do bom?

Jim Collins, um dos mais respeitados autores de negócios, notabilizou a ideia de que o bom é inimigo do ótimo. Na perspectiva que ele adota, o que está bom nos deixa numa zona de conforto. Nos conformamos, segundo o autor, com uma escola boa, um vida boa, uma empresa boa. E como nos acomodamos com o que está bom, não buscamos o ótimo. Faz todo sentido, certo? Difícil discordar dele. Mas vamos tentar.

Será que não seria o ótimo inimigo do bom? Essa reflexão é do filósofo Voltaire – parece que ele aconselhava a não deixar o ótimo ser inimigo do bom. Ou seja: queremos algo perfeito, maravilhoso, e acabamos não fazendo nada. Analisando esse raciocínio, identificamos as raízes do perfeccionismo.

O perfeccionista, em geral, não faz muita coisa. Ele está muito ocupado tentando deixar seu projeto melhor. Lembro de uma situação ocorrida em sala de aula: uma aluna, que acompanhei durante dois ou 3 semestres, era sempre a última a entregar qualquer trabalho ou prova. Ela dizia que era perfeccionista. Mas o trabalho que ela entregava nunca era o melhor da sala. Talvez estivesse na média, semelhante aos primeiros a serem concluídos. E eu tive que falar isso para ela: não de uma forma depreciativa, mas questionando se valia a pena dedicar tanto tempo e esforço quando o resultado não mudava muito.

A ideia de que o ótimo é inimigo do bom se tornou famosa nesta frase: o feito é melhor do que o perfeito. As vezes, quando buscamos o ótimo (e só o ótimo, mais nada) podemos cair na inércia. Não vou divulgar meu trabalho (ou minha arte) porque ainda não está como eu gostaria. Não vou mudar de vida porque ainda não estou preparado. E enquanto isso, o tempo vai passando.

O desafio é definir quando é suficiente ser bom, e quando é necessário ser ótimo. Isso pode ser estabelecido antes de começar, mas também durante o andamento de um projeto. Dependendo das perspectivas futuras e de retorno, você pode definir se vai fazer e entregar, ou se vai dedicar muito esforço até atingir o melhor.

Mas insisto: o perfeccionista acaba se escondendo, porque ele teme ser mal avaliado. O perfeccionista tem medo. Medo de o que os outros vão dizer quando ele mostrar e aparecer. Ser perfeccionista é uma desculpa, não uma característica. E isso é bom: basta parar de usá-la.