O bom é inimigo do ótimo? Ou o ótimo que é inimigo do
bom?
Jim Collins, um dos mais respeitados autores de negócios,
notabilizou a ideia de que o bom é inimigo do ótimo. Na perspectiva que ele
adota, o que está bom nos deixa numa zona de conforto. Nos conformamos, segundo
o autor, com uma escola boa, um vida boa, uma empresa boa. E como nos acomodamos
com o que está bom, não buscamos o ótimo. Faz todo sentido, certo? Difícil
discordar dele. Mas vamos tentar.
Será que não seria o ótimo inimigo do bom? Essa reflexão
é do filósofo Voltaire – parece que ele aconselhava a não deixar o ótimo ser
inimigo do bom. Ou seja: queremos algo perfeito, maravilhoso, e acabamos não
fazendo nada. Analisando esse raciocínio, identificamos as raízes do
perfeccionismo.
O perfeccionista, em geral, não faz muita coisa. Ele está
muito ocupado tentando deixar seu projeto melhor. Lembro de uma situação
ocorrida em sala de aula: uma aluna, que acompanhei durante dois ou 3
semestres, era sempre a última a entregar qualquer trabalho ou prova. Ela dizia
que era perfeccionista. Mas o trabalho que ela entregava nunca era o melhor da
sala. Talvez estivesse na média, semelhante aos primeiros a serem concluídos. E
eu tive que falar isso para ela: não de uma forma depreciativa, mas
questionando se valia a pena dedicar tanto tempo e esforço quando o resultado
não mudava muito.
A ideia de que o ótimo é inimigo do bom se tornou famosa
nesta frase: o feito é melhor do que o perfeito. As vezes, quando buscamos o
ótimo (e só o ótimo, mais nada) podemos cair na inércia. Não vou divulgar meu
trabalho (ou minha arte) porque ainda não está como eu gostaria. Não vou mudar
de vida porque ainda não estou preparado. E enquanto isso, o tempo vai passando.
O desafio é definir quando é suficiente ser bom, e quando
é necessário ser ótimo. Isso pode ser estabelecido antes de começar, mas também
durante o andamento de um projeto. Dependendo das perspectivas futuras e de
retorno, você pode definir se vai fazer e entregar, ou se vai dedicar muito
esforço até atingir o melhor.
Mas insisto: o perfeccionista acaba se escondendo, porque
ele teme ser mal avaliado. O perfeccionista tem medo. Medo de o que os outros
vão dizer quando ele mostrar e aparecer. Ser perfeccionista é uma desculpa, não
uma característica. E isso é bom: basta parar de usá-la.