quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O inteligente fracassado

Por que algumas pessoas muito inteligentes não se dão bem na vida?

Eu já me fiz essa pergunta algumas vezes. Uma pessoa próxima da minha família já foi objeto dessa especulação: como pode alguém tão inteligente não conseguir fazer nada direito? (Em tempo: falo aqui do conceito de inteligência clássica, da pessoa que vai bem na escola, que parece saber de tudo quanto é assunto. Não se trata, por exemplo, do conceito de "inteligência emocional").

Antes de especular também sobre a questão, um parêntese. "Inteligente” é o pior elogio que você pode dar a uma criança. Eu ouvia isso na infância. E acreditei nisso. E um dia eu percebi que a inteligência era apenas um dos ingredientes necessários: e não era o mais importante. E eu acho que eu nem era tão inteligente quanto os pais e os tios pensavam. Imagine a situação: a criança tira 10 numa prova. E você fala: “Parabéns, você é muito inteligente!" E então na semana seguinte a criança tira 5 em outra prova. O que você vai falar agora? Que você se enganou? É melhor elogiar o esforço, o processo de dedicação e estudo. E se algo deu errado no resultado, que se avalie a preparação, e não a capacidade intelectual.

Voltando ao inteligente adulto: em geral ele acaba adotando uma postura pessimista. E por ser inteligente, acaba desenvolvendo ótimos raciocínios sobre como as coisas podem dar errado, sobre o motivo de as coisas não funcionarem. E então ele não empreende porque a maioria das empresas quebra. Ele não casa porque a maioria dos casais acaba se divorciando. Ele não vai fazer novos amigos porque as pessoas são burras (é o que ele acredita). E ele, intitulado inteligente, torna-se um perito em apontar os motivos de não valer a pena. E enquanto se explica, não constrói nada.

Eis a pior parte: ele acaba explicando a si mesmo a própria inércia. Uma vida inteira de justificativas e desculpas. E de tanto repeti-las, o cérebro acaba considerando verdade: ele realmente acredita que o mundo não entende o valor que ele tem. E assim, o que parecia despontar como uma vantagem na infância, torna-se um fardo ao longo da vida.


E se a criança ouvir a família ou a professora dizer que ela é burra? Ela vai aceitar e adotar a justificativa ("Não sou inteligente, não adianta!”)? Ou vai tentar reverter a situação com mais esforço?