Existe um ditado popular que diz que para o martelo, tudo é
prego. Ou então que, para quem só tem um martelo, tudo se parece com prego. Faz
sentido. E nesse caso, não se trata apenas de sabedoria popular. É algo que a
ciência confirma.
Se você é um médico especialista em determinado tipo de
cirurgia, a ciência afirma que a tendência é que você não consiga ser sempre
imparcial na sua avaliação. A tendência é você acreditar que a sua
especialidade é a melhor alternativa para resolver aquele problema. Sua
especialidade é o martelo e a doença do paciente é (ou se torna) o prego.
Simplifico e generalizo com essa breve analogia para já
apontar a questão central dessa reflexão: um conflito de interesses nem sempre
é mal-intencionado. Muitas vezes ele é inconsciente: você acredita estar
ajudando, quando na verdade está tentando aplicar ou vender aquilo que você
faz.
E claro que o conflito de interesses pode ser bem evidente:
eu convido você para uma festa mas estou interessado em aparecer nas fotos com
você, porque isso vai me promover. Ou você aconselha alguém a desistir de uma
oportunidade porque você tem interesse nela. Quem nunca?
Logo, temos dois tipos de conflitos a serem evitados. O
consciente e o inconsciente, digamos. O consciente é a manipulação premeditada,
independente da boa ou má intenção. Uma boa prática: é mais eficiente quando se
tornam claras as segundas intenções. "É o seguinte: quando você vier à
festa, gostaria muito de tirar uma foto contigo. Sou seu fã, admiro o seu
trabalho. Você se importa?" Tornar o interesse claro e explícito exclui
qualquer interpretação duvidosa.
Já o conflito de interesses inconsciente é mais crítico. Para
ser notado, exige uma reflexão sincera e profunda sobre aquilo que você faz
automaticamente. E em geral, é necessário que alguém aponte esse problema em
você. Dificilmente você vai enxergar o conflito se olhando no espelho, ou
pensando na vida. O problema é que não somos muito bons em aceitar críticas.
Então é provável que as pessoas percebam o seu conflito de interesse, mas não
falem nada. Elas temem sua reação, não querem se incomodar e tem outros
problemas para resolver.
E quando você é a "vítima" de uma situação assim?
Sentindo-se usado para alguém conseguir o que quer? Provavelmente o melhor
caminho é buscar outras opiniões. E tentar ver a situação de uma perspectiva
externa, fugindo do papel de vítima.