quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O medo e a chuva

O sentimento mais frequente em escolas e empresas é o medo. Nas empresas: medo de o chefe não gostar de alguma coisa. Medo de o chefe ver o Facebook aberto. Medo de entrar na sala do chefe e relatar um problema (melhor deixar quieto e não se incomodar). Medo de tentar fazer algo diferente e dar errado.

Nas escolas: medo de questionar o professor, o dono da verdade. Medo de falar o que eu penso e os colegas rirem. Medo de fazer o que eu gosto e não ser aceito pelos colegas. 

Nas empresas, a principal consequência do medo é a estagnação: se temos medo de errar, não vamos tentar algo novo. E não vamos melhorar, mudar e inovar. Pois estamos preocupados unicamente em fazer as coisas como devem ser feitas, não se incomodar, não levar “mijada". É tragicômico.

Nas escolas, o medo de errar é a grande barreira do aprendizado. Melhor estudar, decorar, ir bem na prova sobre um assunto irrelevante para minha vida. Ficar sentado quieto, prestar atenção no messias lá na frente, copiar o conteúdo do quadro no caderno, como nossos pais e avós faziam. É trágico: nossas escolas pararam no tempo. Faz tempo.

O medo está também em casa: nas nossas cabeças. Você já percebeu que os piores medos são as antecipações de situações improváveis?

Por exemplo: você deita para dormir e, do nada, surgem pensamentos negativos na sua imaginação. Eu sei, na minha eles também surgem. E então você perde o sono imaginando as coisas dando errado, nas mais diversas e trágicas maneiras. Duas notícias boas: estatisticamente a maioria das tragédias e desgraças que você imagina não acontecerão. Se você for um pouquinho racional, a lógica e a probabilidade estão a seu favor.

Outra notícia, melhor ainda: esses pensamentos negativos não estão dentro de você. Se você é um irremediável pessimista, como eu, não significa que a sua cabeça está com problemas. Também não são pressentimentos ou premonições que só a fé explicaria. Esses medos antecipados são como nuvens escuras de chuva. Você não consegue interferir e impedir que elas cheguem: é assim que o cérebro funciona. Mas essas nuvens irão embora em breve, como sempre. E o sol aparece: ele não havia ido embora, apenas estava escondido. O desafio é aprender a lidar com esse clima ruim, que vai continuar aparecendo de vez em quando.

Querer eliminar o medo vai resultar em frustração – e sabe-se lá o que mais. O medo não vai desaparecer: a única alternativa é aprender a dançar com ele.