quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Feedback perdido

Prezado leitor: eu gostaria que você lembrasse de alguma vez que você teve que dar um conselho para alguém. Mas não vale alguma vez que você optou por sugerir algo: falo da obrigação de avaliar ou julgar outra pessoa. Foi simples?

Como professor, essa relação com alunos é constante. Na maioria das vezes o feedback é a nota da prova ou do trabalho. Mas a parte mais difícil é quando você precisa falar para alguém o que você acha do trabalho dela. Essa pessoa, na maioria das vezes, não vai diferenciar as coisas: ela vai achar que a crítica é pessoal.

Uma reclamação frequente de professores, gerentes e demais avaliadores é de que os subordinados (no bom sentido) não ouvem, não obedecem, não mudam. E então, todo o esforço da faculdade ou da empresa é para fazer com que os alunos ou funcionários escutem. Entendam. Obedeçam. Mas há um detalhe nesse processo: não é assim que as pessoas aprendem. Não é assim que as pessoas mudam.

Fico chocado em pensar quantas vezes eu e meus pares culpamos os alunos/funcionários por não entenderem. Somos nós, na verdade, que não entendemos muito o processo de comunicação, aprendizado e mudança.

E isso acontece em todas as interações. Em casa, por exemplo. Há quantos anos você aconselha e é aconselhado por parentes? Quantas vezes esses conselhos resultaram em alguma ação? Não significa que o conselho é ruim. O problema é que, de um lado, está a pessoa tentando ajudar, palpitando soluções. Do outro lado, está a pessoa com o problema. Um não compreende a realidade e a posição do outro.

Gosto da teoria dos sistemas sociais de Niklas Luhmann, que, basicamente, prega que sistema fechados e diferentes (eu e você, por exemplo) não interpretam as informações da mesma forma. Temos nossas próprias crenças e referências. O que conseguimos é, de alguma forma, "perturbar" o outro sistema. E essa perturbação vem através do exemplo, da pergunta, da reflexão. Não vem da resposta pronta, que será entendida sabe-se lá como.

Da próxima vez que você for dar um feedback para alguém, não pense apenas no que você quer dizer. Pense na melhor maneira de fazer esse recado não ser ignorado. O bom e eficiente feedback é responsabilidade de quem comunica. Se você jogar a responsabilidade em quem recebe, dificilmente vai gerar mudança.