quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Pobres crianças

O banco Itaú criou a campanha “Digitau”, assim mesmo, com “U” no final, para falar dos seus serviços online. A ideia é óbvia: um neologismo que justapõe a marca e o canal, representando de forma direta e simples conceitos como modernidade e facilidade para os seus clientes.

No entanto, a patrulha politicamente correta não gostou. Consumidores protestaram no Conar, Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária: alegaram que a propaganda poderia influenciar as crianças e fazer com que elas escrevessem a palavra digital de forma equivocada, com o “U” do Itaú no final.

Para não se incomodar mais, o Itaú se antecipou à decisão do Conar e fez uma propaganda explicando a diferença entre as duas palavras. A propósito, uma peça muito boa, usando emojis (aquelas carinhas que a gente usa quando não sabe o que escrever – só o português não basta para se entender no WhatsApp) para explicar a ideia do “Digitau”.

A pseudo-polêmica (não encontrei outro termo, e espero que se escreva assim) é burra, desnecessária. As próprias crianças devem ter ficado ofendidas: será que elas não tem a capacidade de entender o trocadilho, a brincadeira da propaganda? Elas vivem conectadas e acostumados com uma linguagem em constante mutação. É possível que muitas perceberam a ideia antes mesmo dos pais.

Já comentei neste espaço o quanto as tecnologia moldaram as famílias. Hoje é o filho quem entende de tecnologia e ensina o pai a mexer no celular. É a filha quem entende de moda e palpita sobre o estilo da mãe. Será que elas precisam ser protegidas de palavras “erradas” (errada, no caso, só para quem é analfabeto funcional)? Ou será que o problema aqui é o banco capitalista do mal que quer influenciar pequenos inocentes?

Ao perceber a manipulação das palavras, as crianças demonstram capacidade de raciocínio lógico. Mostram que estão adquirindo repertório para interpretar. Aos poucos aprendem a usar a ironia em texto. Essa deveria ser a preocupação educacional, ainda mais em tempos em que o corretor do computador ou do celular vai te avisar se você escrever “digital” de forma errada.

Temos tantos problemas para resolver, mas resolvemos criar novas pendengas irrelevantes. Algo bem característico de um país onde é preciso estar com a opinião alinhada com a consciência social vigente o tempo todo. Ou então correr o risco de ser perseguido na rua e nas redes sociais.