Quando penso nos dilemas do empreendedorismo, lembro de algo
que acontecia na infância. Construíamos, por exemplo, uma estradinha na terra.
Depois a ponte, o rio, a cidade toda. Até que, horas depois, estava tudo
pronto: era chegado o momento de brincar. Mas daí a “graça” se perdia. O
verdadeiro entretenimento era criar, construir.
Daí escuto que muitos empreendedores não são bons
empresários. Segundo os críticos eles montam um negócio mas não sabem administrar.
E daí a empresa não funciona.
Pode ser. Mas o que me parece é que continua acontecendo o
mesmo que acontecia na infância. A parte divertida é construir. E na empresa
estabelecida, quando não há para onde crescer, a equipe perde a motivação e não
quer mais “brincar”.
Ultimamente, no entanto, minha preocupação é com aqueles
empreendedores que se transformaram em bons empresários. Eles são, do ponto de
vista tradicional, bem sucedidos. Abrem e fecham a empresa todos os dias.
Controlam toda a gestão, fiscalizam tudo. Condenaram-se, no bom e no mau
sentido, a atuar no operacional até o filho assumir. Ou o genro.
É claro que empresas novas precisam da atuação direta do
dono. A prática evidencia isso. E quem já estudou o ciclo de vida das organizações
vai lembrar: autores comparam um novo negócio a uma criança. Ela precisa da
orientação constante dos pais. Mas depois ela cresce. Ou melhor: ela só cresce
de verdade se ganhar independência.
Precisamos desses empresários construindo de novo. Por isso,
pensei em um desafio. Empresário: defina um período de um ou dois anos, e nesse
tempo transfira a gestão do negócio para alguém. Pode ser para um parente, mas
o ideal seria que fosse para um funcionário exemplar. Ele merece essa chance.
Dizem que os bons carregam consigo a ambição de crescer. E você, empresário
calejado? Perdeu essa ambição pelo caminho?
E durante esse processo de delegar a gestão, sugiro que construa
algo novo: monte outros negócios. Resolva outros problemas. Abra uma filial. Ou
melhor: invista em alguém. Apoie uma ideia de negócio e, além de investidor,
seja um mentor. Ajude nossos novos empreendedores. Você sabe como. Você já
desbravou o caminho.