quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Volte a brincar, empresário

Quando penso nos dilemas do empreendedorismo, lembro de algo que acontecia na infância. Construíamos, por exemplo, uma estradinha na terra. Depois a ponte, o rio, a cidade toda. Até que, horas depois, estava tudo pronto: era chegado o momento de brincar. Mas daí a “graça” se perdia. O verdadeiro entretenimento era criar, construir.

Daí escuto que muitos empreendedores não são bons empresários. Segundo os críticos eles montam um negócio mas não sabem administrar. E daí a empresa não funciona.

Pode ser. Mas o que me parece é que continua acontecendo o mesmo que acontecia na infância. A parte divertida é construir. E na empresa estabelecida, quando não há para onde crescer, a equipe perde a motivação e não quer mais “brincar”.

Ultimamente, no entanto, minha preocupação é com aqueles empreendedores que se transformaram em bons empresários. Eles são, do ponto de vista tradicional, bem sucedidos. Abrem e fecham a empresa todos os dias. Controlam toda a gestão, fiscalizam tudo. Condenaram-se, no bom e no mau sentido, a atuar no operacional até o filho assumir. Ou o genro.

É claro que empresas novas precisam da atuação direta do dono. A prática evidencia isso. E quem já estudou o ciclo de vida das organizações vai lembrar: autores comparam um novo negócio a uma criança. Ela precisa da orientação constante dos pais. Mas depois ela cresce. Ou melhor: ela só cresce de verdade se ganhar independência.

Precisamos desses empresários construindo de novo. Por isso, pensei em um desafio. Empresário: defina um período de um ou dois anos, e nesse tempo transfira a gestão do negócio para alguém. Pode ser para um parente, mas o ideal seria que fosse para um funcionário exemplar. Ele merece essa chance. Dizem que os bons carregam consigo a ambição de crescer. E você, empresário calejado? Perdeu essa ambição pelo caminho?

E durante esse processo de delegar a gestão, sugiro que construa algo novo: monte outros negócios. Resolva outros problemas. Abra uma filial. Ou melhor: invista em alguém. Apoie uma ideia de negócio e, além de investidor, seja um mentor. Ajude nossos novos empreendedores. Você sabe como. Você já desbravou o caminho.