quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Repetições preguiçosas

Há alguns dias eu ouvia uma pesquisadora comentar o desafio constante de fazer ciência e não emitir opiniões pessoais. O drama é o seguinte: existem coisas que ela acredita, que ela acha que são verdade, mas que não passaram pelo rigor da observação do método científico. Logo, ela se esforça para evitar esses juízos de valor, pois não se sabe de onde surgiram.

Todo profissional passa por esse desafio. No meu caso, especialmente no marketing, o desafio é não repetir o que todo mundo fala sem analisar a realidade, sem ao menos usar um pouco a lógica ou o bom senso. Vou citar alguns exemplos notórios de frases que repetimos mas que, em geral, representam apenas um discurso preguiçoso.

Primeiro exemplo: “Propaganda é a alma do negócio”. Se o seu negócio não tem uma alma, uma razão de existir, não é a propaganda que vai resolver esse problema. A propaganda existe para mostrar quem você é, como você resolve, o que você tem para ajudar. Caso contrário, estará apenas embalando o vazio.

Segundo exemplo: “Nosso objetivo é atender todas as necessidades dos clientes.” Será que você realmente sabe o que o seu cliente precisa? Será que você é obcecado pelo problema do seu cliente, ou a equipe de vendas só pensa na meta financeira? Há alguns dias, ouvi um empresário se queixar que as pessoas não davam valor ao seu produto. Uma frase que revela o quanto ele está focado em faturar, e não em entregar uma solução.

E para concluir, o exemplo mais corriqueiro: “Aqui o cliente vem em primeiro lugar.” Mais uma dessas frases que todo mundo repete e que ninguém acredita. Sugiro você anunciar que na sua empresa o cliente vem em segundo lugar, e a equipe em primeiro. Assim, quem sabe a equipe assuma como prioridade resolver problemas do cliente, e não se comportar de um jeito quando o chefe está olhando e de outro quando ninguém está vendo. E acredito que os consumidores iriam gostar da ideia. No mínimo iriam prestar atenção em um posicionamento diferente.


A questão não é nem fazer ciência. O desafio, resumindo, é parar de repetir as mesmas mentiras e pensar em fazer as coisas de um modo mais autêntico. E, quem sabe, de um modo mais honesto.