Há alguns dias eu ouvia uma pesquisadora comentar o desafio
constante de fazer ciência e não emitir opiniões pessoais. O drama é o
seguinte: existem coisas que ela acredita, que ela acha que são verdade, mas
que não passaram pelo rigor da observação do método científico. Logo, ela se
esforça para evitar esses juízos de valor, pois não se sabe de onde surgiram.
Todo profissional passa por esse desafio. No meu caso, especialmente
no marketing, o desafio é não repetir o que todo mundo fala sem analisar a
realidade, sem ao menos usar um pouco a lógica ou o bom senso. Vou citar alguns
exemplos notórios de frases que repetimos mas que, em geral, representam apenas
um discurso preguiçoso.
Primeiro exemplo: “Propaganda é a alma do negócio”. Se o seu
negócio não tem uma alma, uma razão de existir, não é a propaganda que vai
resolver esse problema. A propaganda existe para mostrar quem você é, como você
resolve, o que você tem para ajudar. Caso contrário, estará apenas embalando o
vazio.
Segundo exemplo: “Nosso objetivo é atender todas as
necessidades dos clientes.” Será que você realmente sabe o que o seu cliente
precisa? Será que você é obcecado pelo problema do seu cliente, ou a equipe de
vendas só pensa na meta financeira? Há alguns dias, ouvi um empresário se
queixar que as pessoas não davam valor ao seu produto. Uma frase que revela o quanto
ele está focado em faturar, e não em entregar uma solução.
E para concluir, o exemplo mais corriqueiro: “Aqui o cliente
vem em primeiro lugar.” Mais uma dessas frases que todo mundo repete e que
ninguém acredita. Sugiro você anunciar que na sua empresa o cliente vem em
segundo lugar, e a equipe em primeiro. Assim, quem sabe a equipe assuma como
prioridade resolver problemas do cliente, e não se comportar de um jeito quando
o chefe está olhando e de outro quando ninguém está vendo. E acredito que os
consumidores iriam gostar da ideia. No mínimo iriam prestar atenção em um
posicionamento diferente.
A questão não é nem fazer ciência. O desafio, resumindo, é
parar de repetir as mesmas mentiras e pensar em fazer as coisas de um modo mais
autêntico. E, quem sabe, de um modo mais honesto.