Num primeiro momento, a vontade é de concordar com a comparação de Antônio Fagundes. E percebe-se que, indiretamente, ele quis dizer que o teatro vale mais do que a luta, especialmente se observados por uma escala de valores culturais.
Do ponto de vista cultural e artístico, Antônio Fagundes pode até ter razão. Mas do ponto de vista comercial, sua declaração é, no mínimo, ingênua.
Em primeiro lugar, nem toda peça de teatro é boa. Arrisco dizer que uma minoria vale a pena. Dessa forma, sair defendendo todas as peças de teatro é apenas corporativismo. O ator acredita que o que ele faz é mais nobre que outras atividades, e que o povo tem o dever de prestigiar, e não reclamar do preço. Mais ou menos como o empreendedor que acredita que o seu produto ou serviço é superior. E que o povo é que não entende. Antônio Fagundes acredita que falta cultura. Empreendedores acreditam que falta o quê? Propaganda?
Em segundo lugar, se você entra na questão de preço e venda, você saiu do campo artístico e está falando de negócios. Quem quer vender precisa entender que o que produz é para as pessoas, e não para materializar uma inspiração artística. Logo, é preciso fazer algo que as pessoas queiram porque é bom, não porque o iluminado acha que elas deveriam comprar. Uma inspiração artística, por melhor que o autor/ator ou a crítica acreditem que seja, não é garantia de sucesso comercial – por mais que eles afirmem (insisto!) que o povo tem a obrigação de prestigiar.
Creio que a salvação do teatro não está no preço ou na consciência cultural do público – está na qualidade das peças e dos atores. E a salvação dos negócios está na qualidade dos produtos, dos processos e das pessoas – e não na inspiração do empreendedor.