quinta-feira, 10 de abril de 2014

Ser errado e estar certo

Na semana passada, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou a pesquisa "Tolerância social à violência contra as mulheres”. Os resultados geraram muita polêmica, e o número mais comentado foi o seguinte: 65% dos brasileiros concordam com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".

Alguns dias depois, o Ipea avisou publicamente que houve um engano: o número correto não era 65%, e sim 26%. O equívoco ocorreu, segundo o instituto, em função de uma confusão de gráficos no ato da publicação. O diretor da área de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Osório, responsável pela equipe que divulgou a pesquisa errada, pediu exoneração do cargo. Este sim um ato correto: a culpa é sempre do chefe. (Em tempo: eu também mandaria ele embora se ele não me explicasse o que o tema tem a ver com economia aplicada.)

E agora, como fica toda a repercussão? A imprensa do mundo todo relatou o suposto machismo da sociedade brasileira. Muita gente tirou a roupa no Facebook e escreveu no próprio corpo que não merecia ser estuprada. Muitos artigos calorosos foram escritos. Até eu comentei em sala de aula. Será que ainda vale a pena gritar, escrever, comentar e se pelar quando só 1 em cada 4 entrevistados esquece que a culpa é do estuprador?

Peço a licença do caro leitor para colar aqui algo que escrevi em 2008: “(...) uma menina de quinze anos, embriagada, foi estuprada por três rapazes. Eles filmaram o ato, que caiu na rede e virou notícia em todo o país. Assisti a reportagem da Globo no Youtube. Por acaso, desci a página e li, horrorizado, os comentários dos internautas. Pasme, leitor: a maioria censura a garota. "Quem mandou beber tanto, onde estavam os pais, bem feito!", e demais absurdos do gênero. Os moralistas de sempre, desta vez justificando um crime medonho em função de um comportamento inadequado”. Esse crime ocorreu em Joaçaba, lembra?

Mudando de assunto, mas não de tema, uma curiosidade: na última pesquisa do Datafolha, a presidente Dilma perdeu um pouco da popularidade. Aécio e Eduardo Campos permaneceram nos mesmos patamares da última avaliação. Mas o número que me chamou a atenção foi o seguinte: 42% dos entrevistados disse não conhecer Eduardo Campos. Já 25% das pessoas não conhecem Aécio Neves. E 1% afirma não saber quem é Dilma Rousseff.

Esse 1% da população que não sabe quem é a presidente que me intriga. Será que são pessoas que vivem em cavernas? Ou é gente que só queria avacalhar a entrevista?

Pesquisas revelam muito sobre nós. Inclusive aquelas que estão erradas.