Na semana passada, o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) divulgou a pesquisa "Tolerância social à violência contra
as mulheres”. Os resultados geraram muita polêmica, e o número mais comentado
foi o seguinte: 65% dos brasileiros concordam com a afirmação "mulheres
que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".
Alguns dias depois, o Ipea avisou publicamente que houve um engano: o número correto não era 65%, e sim 26%. O equívoco ocorreu, segundo o instituto,
em função de uma confusão de gráficos no ato da publicação. O diretor da área
de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Osório, responsável pela equipe
que divulgou a pesquisa errada, pediu exoneração do cargo. Este sim um ato
correto: a culpa é sempre do chefe. (Em tempo: eu também mandaria ele embora se
ele não me explicasse o que o tema tem a ver com economia aplicada.)
E agora, como fica toda a repercussão? A imprensa do mundo
todo relatou o suposto machismo da sociedade brasileira. Muita gente tirou a
roupa no Facebook e escreveu no próprio corpo que não merecia ser estuprada.
Muitos artigos calorosos foram escritos. Até eu comentei em sala de aula. Será
que ainda vale a pena gritar, escrever, comentar e se pelar quando só 1 em cada
4 entrevistados esquece que a culpa é do estuprador?
Peço a licença do caro leitor para colar aqui algo que
escrevi em 2008: “(...) uma menina de quinze anos, embriagada, foi estuprada
por três rapazes. Eles filmaram o ato, que caiu na rede e virou notícia em todo
o país. Assisti a reportagem da Globo no Youtube. Por acaso, desci a página e
li, horrorizado, os comentários dos internautas. Pasme, leitor: a maioria
censura a garota. "Quem mandou beber tanto, onde estavam os pais, bem
feito!", e demais absurdos do gênero. Os moralistas de sempre, desta vez
justificando um crime medonho em função de um comportamento inadequado”. Esse
crime ocorreu em Joaçaba, lembra?
Mudando de assunto, mas não de tema, uma curiosidade: na
última pesquisa do Datafolha, a presidente Dilma perdeu um pouco da
popularidade. Aécio e Eduardo Campos permaneceram nos mesmos patamares da
última avaliação. Mas o número que me chamou a atenção foi o seguinte: 42% dos
entrevistados disse não conhecer Eduardo Campos. Já 25% das pessoas não conhecem
Aécio Neves. E 1% afirma não saber quem é Dilma Rousseff.
Esse 1% da população que não sabe quem é a presidente que me
intriga. Será que são pessoas que vivem em cavernas? Ou é gente que só queria
avacalhar a entrevista?
Pesquisas revelam muito sobre nós. Inclusive aquelas que
estão erradas.