quinta-feira, 17 de abril de 2014

Fósforo, pornografia e decadência

Em duas situações relatei neste espaço a decadência triste de produtos clássicos, icônicos. Para quem está no futuro e olha para o passado parece simples notar que o declínio estava à espreita. Mas para quem está no presente é difícil enxergar a inovação que se aproxima.

Na primeira vez falei sobre a queda da caixa de fósforo, cruelmente substituída pelo isqueiro. Além de acender os glamorosos cigarros da época (todo mundo queria fumar), as caixas de fósforo também eram muito utilizadas como canal de divulgação. Para se ter uma ideia, em 1920 elas eram o meio mais utilizado para propaganda nos EUA: as marcas estampavam seus apelos publicitários nas onipresentes caixinhas.

No entanto, nos anos 1970, o francês Michel Bich, criador da caneta Bic, inventou o isqueiro: eles custavam 1 dólar e acendiam 3 mil cigarros. Assim morreu não só a caixa de fósforos, mas toda a indústria de propaganda centrada no ultrapassado produto.

Num segundo momento tracei uma solene reflexão sobre como a internet decretou o fim do filme pornô. Ou melhor: a pornografia permanece firme e forte, verídica, gratuita, amadora e muito próxima – sumiram apenas os roteiros e os atores profissionais. E o que acabou foi o ato de comprar fitas ou DVDs eróticos. Ou ir até a locadora e entrar envergonhado na salinha dos “filmes adultos”. E isso foi devastador para todas as produtoras especializadas em sacanagem.

Hoje, outra vez, volto aos filmes: se você nunca ouviu falar em Netflix, vai ouvir em breve. Trata-se de uma locadora virtual que vem crescendo no mundo todo de maneira avassaladora. Você paga uma mensalidade razoável e tem acesso a um catálogo online enorme de filmes, desenhos e séries. Para quem tem uma Smart TV (qualquer uma com acesso à internet) é o que há: assistir ao que quiser, a hora que quiser, sem sair de casa. Ou seja: a liberdade que todo mundo sempre quis desde o tempo do videocassete e das fitas VHS.

Toda empresa, todo produto, todo profissional tem um ciclo de vida. Com a tecnologia (Internet, webcam, isqueiro) se torna evidente a instabilidade das coisas que temos, usamos ou vendemos. Em breve algo melhor, ou mais barato, ou mais eficiente vai demolir o que você faz, quem você é ou o que você vende. O primeiro passo da sobrevivência, para quem está no presente, é enxergar o que está vindo.