terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os introvertidos – parte 2

O maior desafio de um introvertido é, desde criança, adaptar-se ao mundo: nossas escolas, faculdades e empresas são moldadas para pessoas extrovertidas. O introvertido tem trabalho dobrado: precisa estudar, aprender, trabalhar, evoluir como qualquer pessoa. Mas, além disso, precisa aparecer, interagir – precisa se comportar como um extrovertido.

As empresas estão derrubando as paredes e colocando as pessoas para trabalhar cada vez mais próximas. Em qualquer instituição de ensino, o trabalho em equipe é a regra. Mesmo que, em geral, cada aluno faça uma parte e apresente um pouquinho lá na frente da sala. A métrica de avaliação é a participação.

Professores consideram bons alunos os extrovertidos. Prestar atenção e ir bem na prova não basta: é preciso participar e opinar, mesmo que seja uma bobagem – de acordo com os critérios atuais de avaliação, é melhor do que ficar calado.

A mesma situação ocorre com os departamentos de recursos humanos. As qualidades mais valorizadas são a habilidade de se comunicar e o tal relacionamento interpessoal. Sem falar, claro, na capacidade que o profissional tem de se promover, de se “gabar”: caso contrário, como saberíamos das maravilhas que ele já realizou?

Nesse cenário onde o melhor é o que aparece mais, o introvertido assume um objetivo paralelo ao desenvolvimento pessoal: conseguir ser visto, notado, ou simplesmente ouvido. 

A dúvida: será que é realmente necessário que o introvertido se transforme num extrovertido? Será que não perdemos tempo (e dinheiro) tentando que ele seja outra pessoa para só então aproveitar suas habilidades cognitivas? Já se sabe, por exemplo, que as ideias podem nascer no isolamento, e só depois serem submetidas ao escrutínio de um grupo. 

Talvez fosse mais simples deixar que ele encontrasse a melhor maneira e o melhor ambiente para produzir mais e melhor. O esforço atual das escolas e do trabalho (e até das famílias) é adapta-lo a um padrão de comportamento. Ou é realmente impossível ensinar alguém que fala menos e reflete mais? Existem estudos sérios que apontam isso?

Essa necessidade de exposição é opressiva para quem é recluso. E é contraproducente num cenário carente de resultados. Quem sabe seja o momento de repensar essa tara de querer moldar as pessoas. Desconfio que existam coisas sensacionais que não estão sendo ouvidas: estamos gritando demais. E eles falam baixinho.