Professores utilizam comentários assim para exemplificar o quanto são injustiçados: a nobre missão de educar não é considerada um trabalho completo.
Não vou sair em defesa dos colegas. Não gosto desse discurso que representa uma “classe” inteira: igualar profissionais de uma mesma categoria é uma ofensa aos melhores e um refúgio aos medíocres – e isso vale para qualquer atividade profissional. Quem generaliza, no caso dos professores, provavelmente há tempos não entra numa sala de aula.
Minha questão é outra: O que pretendem os que trabalham tanto? De que maneira seu esforço está contribuído com os seus objetivos? Ou mais dramático: quais são os seus objetivos?
Entendo que muitas pessoas não possuem opção e precisam trabalhar para suprir necessidades básicas. Mas falo daqueles que já tem o que precisam para viver e continuam trabalhando feito condenados.
Trabalhar tanto traz dignidade? Pode ser. É uma filosofia de vida de origem religiosa e cultural muito forte, algo já abordado neste espaço. Mas se é para ser pragmático, pergunto: o que todo esse sacrifício está construindo? Será que gastar todo esse tempo e energia trabalhando é realmente necessário?
A intenção desse raciocínio não é criticar ninguém. Se você trabalha sem parar é problema seu. Mas acho que todo profissional pode refletir se o que ele está fazendo é de alguma forma edificante. É possível avaliar frequentemente seus resultados.
Sugiro conversar com as pessoas. Se você ouvir, elas irão dizer o que pensam das suas mãos calejadas. Das dores nas costas. Da sua falta de tempo.
E se você trabalha muito agora para um dia ter mais tempo livre, cuidado: dificilmente esse dia vai chegar, a não ser que você defina uma data, um prazo, um número, uma cifra. Algo que você possa medir e acompanhar.
Só mais uma reflexão para concluir: pense no que você construiu de importante nos últimos cinco anos. Se continuar trabalhando da mesma maneira nos próximos cinco, os resultados serão diferentes?