terça-feira, 20 de agosto de 2013

O visionário gentil

Faz tempo que contei esta história neste espaço. Vale a reprise:

Era uma vez um menino, prodígio da matemática. Ele costumava passar as férias viajando com seus avôs. Durante as viagens, refestelado no banco traseiro, Jeff surpreendia os velhos com suas habilidades de raciocínio lógico.

Apenas um detalhe incomodava o menino: a fumaça dos cigarros que sua avó fumava ao longo da jornada. E por isso teve um plano: ele lembrou de uma campanha anti-tabagista que ouvira no rádio. A campanha dizia que a cada tragada o fumante perdia alguns minutos de vida.

Assim, o prematuro gênio dos cálculos fez as contas, tocou no ombro da avó e declarou: “Fumando a cada dois minutos a senhora já perdeu nove anos de vida!”

Ele esperava, como de costume, ser elogiado por mais uma dedução brilhante. A reação, no entanto, foi catastrófica: sua avó começou a chorar.

Seu avô, sempre comedido, parou o carro no acostamento, abriu a porta traseira e pediu que o menino descesse. Ele temeu a reação, mas após um instante de silêncio, seu avô falou: “Um dia você vai entender que é mais difícil ser gentil do que ser esperto.”

Esse menino era Jeff Bezos, criador da Amazon.com, maior varejo eletrônico do mundo, pioneiro na mudança radical do nosso modo de fazer compras. Mudou também o modo como lemos: ao lançar o leitor digital Kindle, a Amazon inaugurou a era do livro digital. Bezos acumula hoje uma fortuna estimada em US$ 25 bilhões. A revista Fortune o elegeu como executivo do ano em 2012. A Harvard Business Review elegeu Bezos o segundo maior executivo da última década – atrás apenas de Steve Jobs. Jeff Bezos tem sido, digamos, muito esperto.

Na semana passada, o mercado foi surpreendido com o anúncio de que Jeff Bezos comprou o jornal The Washington Post por US$ 250 milhões. Um dos veículos mais tradicionais dos EUA (nele foram publicadas as reportagens do caso Watergate), mas que vem há anos lutando contra a queda de circulação e de receita dos anúncios. Culpa de Bezos e da Internet, claro.

Os especialistas especulam os motivos de Bezos: por que este visionário da web moderna está investindo na imprensa? Como ele pretende ganhar dinheiro com um jornal decadente? Ou ainda: mais uma estratégia esperta ou, dessa vez, ele está sendo apenas altruísta e gentil?