quinta-feira, 1 de junho de 2017

O design do hábito

Criar hábitos é um processo de design. Ou deveria ser.

Exemplo: você está tentando criar o habito de ler durante uma hora, todos os dias. Mas não está conseguindo. Alegando falta de tempo, como sempre, desanima e passa uma semana sem avançar na leitura. E avança no celular, no controle remoto. Enquanto o livro, largado na estante, estampa na capa, todo dia, o peso da promessa não cumprida.

Infelizmente não é a boa intenção que cria o hábito. Mas duas coisas somadas podem ajudar: a mentalidade certa e o processo de design.

Voltemos ao exemplo do livro e da leitura. Talvez ao invés de uma hora, você pode começar com meia hora. Não adiantou? Então talvez, ao invés de ler deitado, chamando o sono, você poderia testar uma poltrona. Talvez fazer um investimento e comprar a “cadeira da leitura”. Tentar ler em outro horário do dia. Talvez testar outra luz, e não essa econômica porém inadequada luz branca do seu teto. Ou tentar outro livro. Ou comprar um Kindle. E por aí vai: uma construção constante em busca da rotina (e da vida) que você quer.

Criar um hábito não depende apenas da força de vontade. Criar habito depende da tentativa e do erro, características do processo de design (e de inovação).

O outro aspecto é a mentalidade de quem vai errar. Quero dizer: se você vai começar a fazer algo novo, com certeza vai errar em algum momento. O mesmo exemplo: se você tentar ler todos os dias, falhar e se sentir culpado por isso, seria melhor nem ter pensado em criar o hábito, certo? No entanto, se você tiver a mentalidade certa, vai encarar os pequenos fracassos como sinais de o que não funciona. E vai seguir testando.

E um perigo: criar novos hábitos pensando no sintoma, e não no verdadeiro problema. Insisto no exemplo: você tenta ler, mas não se concentra. Precisa voltar três parágrafos porque seus olhos estavam seguindo as linhas, mas você pensava em outra coisa. Será que, antes de tentar ler durante uma hora, você não precisa se organizar melhor? Usar uma agenda, um calendário? Pode ser. Teste e erre até encontrar o que precisa, o que funciona.


E o mais importante, aonde todos pecamos: achamos que o hábito vai criar raízes depois de um início bem sucedido. Para o hábito permanecer, a prática precisa ser incessante. Podemos concluir com exemplos maiores: a generosidade é um hábito. A excelência é um hábito. Construídos, com erros e acertos, no dia-a-dia.