quinta-feira, 19 de maio de 2016

O jogo da comunicação

Há alguns dias, dirigindo, eu ouvia no rádio do carro, desinteressado, uma entrevista de um presidente de um clube de futebol capenga. Ele não respondia direito o que perguntavam. Desconversava, falava e não informava nada, enrolava. Ao desligar o carro percebi o quanto eu já acho natural esse tipo de declaração vazia. Estamos acostumados. 

Parece que desde que inventamos as palavras e os idiomas usamos o discurso para enrolar. Ou para tentar explicar ou disfarçar o inexplicável. E, de certa forma, falar bem, para o nosso conceito, é saber sair de perguntas difíceis, esconder o jogo.

É o que percebemos no discurso político, por exemplo. É o que percebemos em treinamentos de vendas e na formação de supostos bons vendedores. É o que se percebe também, curiosamente, na conquista amorosa. Se você for direto e sincero, perdeu.

Ao mesmo tempo, afirmamos que a boa comunicação é uma arte. A mim me parece muito mais um jogo, uma disputa.

E aí entra o dito pelo não dito. O sarcasmo, a ironia (a qual admiro, mas que também faz parte desse jogo). As metáforas que ilustram o intangível e transformam em linguagem o que não nasceu para ser representado – como os sentimentos, por exemplo. 

Mas vamos à parte prática: algumas empresas já perceberam o problema da comunicação. Quem sabe todas já perceberam, mas poucas admitem que é um problema sem solução. Até podemos diminuir ruídos, mas resolver jamais. Ou seja: quanto menos comunicação possível, melhor. E assim nasceram as equipes pequenas da Amazon: times independentes, formados por aproximadamente meia dúzia de pessoas (volto ao tema em breve). É mais fácil se comunicar entre poucos.

Isso significa que nas pequenas empresas, com times pequenos, comunicam-se melhor? Que bom se fosse! Quem poderia ter a comunicação como diferencial em relação aos grandes só piora a estatística, protegidos por hierarquias familiares arcaicas e ineficientes.

Comunicar-se melhor, hoje em dia, talvez seja olhar para as nossas origens primitivas. E falar menos, ou quase nada, ou, se possível, nada. Olhar nos olhos, em silêncio, e interpretar o que acontece, o que passa, o que sente. Como provavelmente se fazia antes de anoitecer e dormir, dentro das cavernas.