quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ordinários fascinantes

O humorista Millôr Fernandes, entre tantas frases famosas, deixou uma que gosto de relembrar: “Quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos bem.” Ele se referia, obviamente, ao fato de imaginarmos alguém famoso, especial, forte, mas que, quando observado de perto, na intimidade, não era tudo aquilo.

Peter Drucker, o inventor da administração moderna, sempre afirmou que nada era mais interessante do que as pessoas. Para ele, não importava se a pessoa aparentasse ser a mais sem graça ou ordinária: quando ela começava a falar sobre o que fazia, o que conhecia, o que gostava, ela se tornava fascinante. Ele dizia que nunca conheceu sequer uma pessoa que não fosse interessante.

Vale esclarecer: Millôr sempre foi irônico, provocador. É admirado por isso. Mas hoje em dia, para mim, o assunto é muito sério, e por isso me identifico com a convicção de Peter Drucker. E aproveito esse espaço para refletir sobre ela.

Não sei o que pensa o leitor, mas tenho a impressão de que, quando ouvimos qualquer pessoa, com curiosidade e atenção, descobrimos muita coisa boa. O problema, no meu caso, é que as vezes esqueço disso. E prefiro ficar sozinho, pensando nas minhas coisas, resolvendo meus problemas, quando poderia estar interagindo, indagando, sendo mais atencioso.

O que facilita a interação, no meu caso, é o aprendizado. Profissionalmente, preciso entender as pessoas (e pessoalmente também pretendo entende-las. Quem sabe um dia). Por isso, gosto de fazer perguntas que me direcionem a assuntos sobre experiências: aonde trabalhou, como era, o que fazia, quem conheceu. Sempre sai uma história boa, e ideias, e insights. 

O problema é que costumamos dizer coisas como “não sou de conversar”, ou “sou mais na minha, reservado”. São crenças que se transformam em desculpas para evitar o contato. Também não prego aqui sobre transformar-se em um extrovertido, falador: falo sobre oportunidades que você ignora ao ignorar as pessoas. Falo sobre tesouros escondidos. Alguns nascem mais curiosos, mais atenciosos, outros mais indiferentes. Para não depender da personalidade e do humor, é preciso haver um método, um hábito. Não sei qual é o seu, leitor. Mas esse interesse histórico orientado (inventei o nome agora) é o meu processo para conhecer o interlocutor que, por mais ordinário, vai se revelar fascinante.