terça-feira, 7 de janeiro de 2014

The End

A história é verídica: há uns dez, quinze anos, um rapaz, notório encrenqueiro, estava causando problemas em algum baile aqui do oeste. Até que um senhor de certa idade apontou-lhe uma arma: dizem que ele travou (e até algo mais) de medo. E aquele idoso teria dito algo assim: “Depois que inventaram o trator e a pólvora, não precisa mais fazer força.” A confusão acabou nessa ameaça e ninguém ficou ferido. Dizem.

Outro fato verídico, que ganhou notoriedade em todo o país no final de 2013: no Teste de Habilidades Específicas (THE) da Polícia Militar da Bahia, dois soldados morreram após percorrer 10km de corrida. Eles completaram o trajeto vestindo fardamento e coturno. 

O THE, além dessa corrida de 10 km, inclui transposição de muro, subida no cabo vertical, transporte de carga, deslocamento em meio líquido, flutuação e apneia na água. 

Será que um policial militar precisa ter esse treinamento semelhante ao do exército de Israel? A mim me parece que o essencial é treinamento psicológico para os nossos policiais.

Ainda mais porque a nossa guerra é diferente: ele vai precisar, por exemplo, conter manifestantes sem ser violento. Vão cuspir na cara dele, ele vai ouvir desaforos, mas precisa manter a calma. Se reagir de alguma forma um pouco mais coercitiva, corre o risco de ser achincalhado pela sociedade politicamente correta, além de ser punido no batalhão. Nosso policial também vai precisar apreender homens de 17 anos e trata-los como crianças que não são.

Lá no baile aquele senhor passou o seguinte recado: com uma arma na mão, qualquer um pode ser valente. Não importa mais a diferença física, como nas batalhas de antanho. Davi está armado para valer, e Golias sabe disso.

Mas o que aquele senhor quis dizer ao mencionar o trator? Acredito que aproveitou para exaltar, além da coragem, sua origem humilde, de trabalhador rural. Além disso, não deu apenas um, mas dois exemplos de que a vida moderna exige habilidades cognitivas, e não apenas força. Nas ruas e nas empresas.

Peço desculpas ao caro leitor se exagero na comparação, mas a morte dos soldados pode servir como reflexão para nossas atividades diárias: quanta coisa desnecessária exigimos dos outros e de nos mesmos? Queremos guerreiros implacáveis, mas as guerras são raras. Para as batalhas diárias, precisamos de pessoas gentis e com muita paciência. Nas ruas e nas empresas.