terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Outra rede social, outro filme

Dizem que o Twitter nasceu de uma grande ideia que Jack Dorsey, seu principal criador, teve ainda na infância. Quando o negócio vingou, ocorreram severas disputas entre os sócios, assim como na história do Facebook ou da Apple. Nos três casos, roteiros de cinema: de fato, só o Twitter ainda não virou filme.

Após disputas de poder entre os criadores, um episódio contribuiu para uma mudança radical na gestão do Twitter: o rapper Snoop Dog fez um show no refeitório da empresa. Os funcionários pulavam sobre as mesas, enquanto o cantor animava a festa e fumava maconha. O novo e profissional presidente do microblog, Dick Costolo, ficou indignado e afirmou que aquilo nunca mais poderia acontecer. E que estava na hora do Twitter crescer.

Desde então, o número de usuários dobrou (550 milhões, aproximadamente metade usuários ativos), a receita com publicidade e o número de funcionários aumentou dez vezes (meio bilhão de dólares por ano e 2.300 colaboradores). Em novembro, o Twitter estreou na Bolsa de Nova York valendo USS 26 bi. (A propósito, quanta gente já havia decretado a morte do Twitter?)

Ou seja: essa visão romântica de que empresas de tecnologia enriquecem rápido e sem compromisso é ingênua. O começo pode ser num quarto, numa garagem, de qualquer jeito: mas a expansão e a longevidade obviamente exigem profissionalização. E curiosamente, para sobrevirem, essas empresas modernas acabam se tornando empresas tradicionais.

Assisti a uma palestra de Dorsey na feira de varejo da NRF (National Retail Federation). Ele falou pouco sobre o Twitter, falou mais sobre seu novo negócio (criado em 2009) totalmente voltado para o comércio: a Square, empresa de tecnologia de pagamentos através de tablets e smartphones. Jack Dorsey destacou como as tecnologias existentes podem facilitar a vida das pessoas e das empresas. Isso também é inovação, e nasce da combinação de ferramentas – não necessariamente da criação de algo novo ou revolucionário. 

Concluindo: o problema de filmes que contam histórias de sucesso como a de Steve Jobs (o fraquinho “Jobs”, mesmo que bem interpretado por Ashton Kutcher) ou a de Mark Zuckerberg (o excelente “A Rede Social”, do diretor David Fincher) é a quantidade de gente que se ilude. Tudo parece muito simples: bastaria uma grande ideia para alcançar fama e fortuna. Essa perspectiva de sucesso encanta, e os incautos passam a vida esperando a inspiração que não chega.

Melhor ouvir o próprio Dorsey, e tentar trabalhar melhor utilizando as ferramentas que a gente já tem.