quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Palavras de vago sentido

O Dicionário Oxford, o mais completo da língua inglesa, elegeu a palavra “selfie” como a palavra do ano. O termo significa aquele autorretrato tirado com o celular e invariavelmente publicado em redes sociais. A pessoa estica o braço e aponta a câmera para si mesma. Ou então vai até o banheiro e tira a foto do espelho.

Já utilizei este espaço para falar sobre como o fim do filme fotográfico banalizou a fotografia. Um retrato era uma ocasião. As pessoas faziam pose (e então nasceu o verbo – não confundir com “pousar”) para sair bem na foto, e aguardavam a surpresa da imagem na revelação do filme. Por mim, tudo a favor da tecnologia, a não ser a quantidade de fotografias que mostram tudo e não destacam quase nada.

Palavras nascem enquanto outras perdem o sentido. Um exemplo recente: o termo “inovação”. Na área de negócios é um daqueles clichês obrigatórios. Nas reuniões das empresas é colocado como objetivo. Em sala de aula virou um dos termos usados em qualquer expressão: um atendimento inovador, uma venda inovadora, uma vitrine inovadora no Natal. Virou sinônimo de bom, diferente, melhor. 

A própria literatura de negócios (?) classifica diversos tipos de inovação. Tentam colocar alguma ordem na morfologia da moda, definindo o que é uma inovação e o que também é, mas não tanto.

Inovação incremental, por exemplo, é aquela que não é bem uma inovação, sabe? Ela muda alguma coisa no produto e necessariamente deve (e aqui basta aplicar algum clichê) “agregar valor” ou “gerar vantagem competitiva”. Além disso, não pode ser apenas uma “melhoria contínua”. Tranquilo, né?

A inovação propriamente dita é então chamada de inovação radical. Aquela que desenvolve algo realmente novo, que gera uma ruptura, um recomeço. Uma imagem colorida na televisão. Um aparelho portátil que toca música aonde você for. Um telefone sem botões. Ou, aproveitando o tema do texto, uma câmera fotográfica que armazena milhares de fotos – e não utiliza filme.

Inovação, de fato, deveria ser algo que mudasse a vida das pessoas. E não apenas algo que as empresas consideram uma mudança. A banalização do termo banaliza o ato e, se bobear, todo o processo.

No entanto, se você escrever numa redação que o “selfie” é uma maneira inovadora de fotografar, vai tirar nota 10.