Em Florianópolis algumas lojas ainda fecham ao meio dia. Numa
confraternização (perdão pelo eufemismo, leitor) em um bar da ilha, concordamos
todos que isso é uma evidência inequívoca de que a capital ainda é uma cidade pequena.
Tudo é lindo e faz sentido nas teorias que nascem na mesa do bar.
De fato estamos com pressa, e muitas vezes o tempo que temos
para resolver problemas é ao meio-dia. Logo, causa um espanto moderno essa pausa
comercial de duas horas para o almoço, bem no horário do... almoço.
(Em tempo: Floripa aparenta ser um mercado pequeno, restrito.
Poucos clientes, pouca estrutura. Mesmo assim tem despertado certo encantamento
externo. Será que a ilha está sendo superestimada? Ou a métrica do progresso é
o trânsito caótico?)
Voltando aos intervalos: pesquisadores já descobriram que 4
horas é o limite do esforço contínuo. Isso se aplica a qualquer atividade profissional,
como atletas de alta performance e, com certa variação, em cachorros que puxam
trenós na neve: tradicionalmente, nas competições, eles corriam em torno de 12
horas e descansavam 12. Estudos mudaram a estratégia: quatro a seis horas de
corrida, com intervalos de descanso da mesma duração.
Pesquisadores notaram que o momento de maior produtividade é
quando você está compenetrado. E essa atenção total à tarefa não pode ser
mantida o dia todo. Após quatro horas, é humanamente impossível manter o mesmo
nível de rendimento.
Em um dos textos mais lidos do mês no blog da Harvard
Business Review, o autor Daniel Goleman relata em detalhes esses estudos e
lembra: o cérebro cansado apresenta sinais. Irritação, fadiga, distração e
dispersão: de repente você percebe que está no Facebook, curtindo a vergonha
alheia, quando deveria estar produzindo.
Se comercialmente fechar ao meio dia é um problema para o
cliente (e eventual prejuízo financeiro para o empresário), mentalmente pode
ser um alívio. Não é apenas qualidade de vida poder ir para casa, almoçar,
brincar com o cachorro, dormir meia hora: é cientificamente comprovado que essa
pausa melhora o rendimento, no caso, da tarde.
Quem sabe Floripa, ou o que restou de Desterro, deva preservar essa tradição de cidade pequena. O problema é atravessar a ponte, almoçar e voltar abrir a loja em uma hora e meia. A teoria de bar, na prática, também é outra.