terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Carros na ponte e cachorros na neve

Em Florianópolis algumas lojas ainda fecham ao meio dia. Numa confraternização (perdão pelo eufemismo, leitor) em um bar da ilha, concordamos todos que isso é uma evidência inequívoca de que a capital ainda é uma cidade pequena. Tudo é lindo e faz sentido nas teorias que nascem na mesa do bar.

De fato estamos com pressa, e muitas vezes o tempo que temos para resolver problemas é ao meio-dia. Logo, causa um espanto moderno essa pausa comercial de duas horas para o almoço, bem no horário do... almoço.

(Em tempo: Floripa aparenta ser um mercado pequeno, restrito. Poucos clientes, pouca estrutura. Mesmo assim tem despertado certo encantamento externo. Será que a ilha está sendo superestimada? Ou a métrica do progresso é o trânsito caótico?)

Voltando aos intervalos: pesquisadores já descobriram que 4 horas é o limite do esforço contínuo. Isso se aplica a qualquer atividade profissional, como atletas de alta performance e, com certa variação, em cachorros que puxam trenós na neve: tradicionalmente, nas competições, eles corriam em torno de 12 horas e descansavam 12. Estudos mudaram a estratégia: quatro a seis horas de corrida, com intervalos de descanso da mesma duração.

Pesquisadores notaram que o momento de maior produtividade é quando você está compenetrado. E essa atenção total à tarefa não pode ser mantida o dia todo. Após quatro horas, é humanamente impossível manter o mesmo nível de rendimento.

Em um dos textos mais lidos do mês no blog da Harvard Business Review, o autor Daniel Goleman relata em detalhes esses estudos e lembra: o cérebro cansado apresenta sinais. Irritação, fadiga, distração e dispersão: de repente você percebe que está no Facebook, curtindo a vergonha alheia, quando deveria estar produzindo.

Se comercialmente fechar ao meio dia é um problema para o cliente (e eventual prejuízo financeiro para o empresário), mentalmente pode ser um alívio. Não é apenas qualidade de vida poder ir para casa, almoçar, brincar com o cachorro, dormir meia hora: é cientificamente comprovado que essa pausa melhora o rendimento, no caso, da tarde.

Quem sabe Floripa, ou o que restou de Desterro, deva preservar essa tradição de cidade pequena. O problema é atravessar a ponte, almoçar e voltar abrir a loja em uma hora e meia. A teoria de bar, na prática, também é outra.